sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Carnaval da Vidigueira I

O Carnaval da Vidigueira já se faz sentir.
Muitos bonecos, todos eles têm em comum serem uns valentes cabeçudos, já foram erguidos em vários pontos da vila, nomeadamente ao longo do itinerário que presumivelmente acolherá o desfile/entrudo no próximo Domingo.
Durante a nossa caminhada, visualizamos ainda bastantes jovens vestidos de acordo com esta nova moda do ano. Havia quem usasse caudas no rabo, outros tinham a cara pintada. Efectivamente, a juventude vive muito esta época do ano. É a altura da diversão, e claro que todos gostam de utilizar uma máscara, tal e qual como aqui o vosso amigo Mensageiro, cuja identidade permanece no anonimato.
Observei ainda junto à Corporação dos Bombeiros Voluntários da Vidigueira uma carrinha repleta de pinturas e mensagens que deverá animar igualmente a Freguesia vizinha de Vila de Frades.
Esta é a altura do ano em que podem pregar partidas amigáveis aos vossos amigos, e fazerem-se passar por aquilo que sonhavam realmente ser (astronautas, heróis de banda desenhada, famosos escritores, feiticeiros ou magos)...
Em termos históricos, apraz-me mencionar que o Carnaval remonta há vários milénios atrás, mais concretamente às eras dos egípcios e gregos que tinham os seus próprios cultos pagãos que assentavam em rituais agrários, danças, pinturas faciais, ingestão de bebidas, rituais de orgia...
Evidentemente que mais tarde, na Idade Média, a Igreja procurou conter estes excessos, e ao controlar este período festivo, acabou mesmo por integrá-lo no calendário religioso, marcando o período antecessor à penitência quaresmal. Carnaval significa pois prazeres de carne, e para os católicos, constituía tradicionalmente os derradeiros dias antes da entrada oficial na Quaresma, esta última caracterizada outrora e obrigatoriamente pela abstinência de carne, sexo, diversões teatrais ou outras festas. Em suma, o Carnaval constituía os últimos momentos de alegria, prazer e diversão, e claro que hoje em dia, festeja-se com excesso tal época festiva milenar.



Imagem nº 1 - No Largo da Cascata, um cabeçudo está atento ao que se passa na vila!



Imagem nº 2 - Outro boneco junto ao Mercado da Vidigueira.



Imagem nº 3 - Junto às piscinas, temos outro cabeçudo na rotunda.



Informação da Câmara Municipal da Vidigueira sobre o Carnaval

A concentração para o desfile é no Parque de Estacionamento do Pavilhão de Desportos. O desfile terá início pelas 15 horas em frente à Escola Básica Integrada Frei António das Chagas de Vidigueira, segue pela Estrada da Circunvalação, Estrada de Cuba, Largo Frei António das Chagas, Cascata, Rua da Matriz, Rua Luís Vaz de Camões, Rua de Portel, Cascata e termina no Largo 5 de Outubro.

Programa do Entrudo Vidigueira 2014

28 de fevereiro (sexta-feira)
21H30 NOITE CARNAVALESCA Pavilhão Vasco da Gama
01 de março (sábado)
21H30 FESTA DO ESFEROVITE Pavilhão Vasco da Gama
02 de março (domingo)
15H00 DESFILE E MATINÉ DANÇANTE 
03 de março (segunda-feira) 
21H30 BAILE DE MÁSCARAS E ENTREGA DE PRÉMIOS Pavilhão Vasco da Gama

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O (insuportável) feito de Fialho de Almeida

É evidente que não é nosso propósito colocar em causa a genialidade deste escritor, o qual é, para muitos, o melhor escritor alentejano de sempre. Ninguém poderá inclusive duvidar do importantíssimo testemunho que este erudito nos deixou sobre a transição turbulenta entre a Monarquia Constitucional e a Primeira República Portuguesa (finais do século XIX - inícios do século XX). 
Mas também não é nosso objectivo traçar neste artigo a biografia de Fialho, algo que até já foi efectuado nos primeiros textos deste blog.
Hoje, vamos falar um pouco do seu feitio. 
Normalmente, e quando estou perante um retrato de Fialho, há sempre uma senhora ao meu lado que diz - "Ele deveria ser um homem de primeira" ou "Ele era um homem jeitoso. Aquela barba ficava-lhe a matar" ou até "Quem me dera ter um homem com aqueles neurónios".
Bem, a erudição não é tudo na vida, e é indiscutível que o escritor vilafradense tinha a capacidade de escrever muito bem e denunciar as injustiças e desigualdades da época como poucos neste Mundo, mas é evidente que existia um lado pessoal, embora este tenha sido esboçado através duma infância difícil, onde foi alvo duma educação exigente e lidou, de perto, com a pobreza e a discriminação (sobretudo em Lisboa, onde faria os seus estudos). Toda esta vida dura se iria repercutir na sua futura forma de estar - um homem frio, capaz duma crítica feroz e violenta (chegou a utilizar mesmo um pseudónimo curioso - Valentim Demónio) desrespeitando mesmo os sentimentos de outrem, muito frontal, mas igualmente implacável. Não seria de estranhar que Fialho ganhasse vários inimigos em cada artigo ou obra que publicava, e por isso, acabou isolado o resto da sua vida. O seu lema "miando pouco, arranhando sempre e não temendo nunca" era especial, mas este grande gato assanhado que tinha a virtude única de escrever, tornava-se mesmo insuportável à vista dos outros que não se reviam no seu estilo de vida.
Desidério Lucas do Ó no seu livro recente "Vila de Frades - Capital do Vinho de Talha" (p. 22) traça mesmo alguns comportamentos de Fialho, que vêm reforçar tudo o que dissemos até agora:


"Até há bem pouco tempo ainda era hábito dizer-se que, ainda rapaz, já revelava uma forte dose de mau feitio e revolta que o haviam de acompanhar durante toda a vida.
Conta-se que, tendo sido castigado pelo pai, se recolheu a um canto a chorar. Nesse preciso momento, o galo cantou. Irritado, foi à capoeira e torceu-lhe o pescoço para que não voltasse a troçar dele.
Contava-se igualmente que Fialho teria contribuído para a morte prematura da mulher já que, apesar de doente, a obrigava a acompanhá-lo nos seus passeios entre Cuba e Vila de Frades (8 Km). Em redor da sua morte também se construiu um mito - ter-se-ia suicidado, ingerindo veneno".


Recorde-se que a mulher de Fialho, Emília Pego (natural de Cuba), faleceu praticamente ao fim de um ano de matrimónio. 
Não, não deveria ser fácil aturar o temperamento de Fialho de Almeida, meus senhores! 
Recentemente, alguns populares disseram-me que nem no final da vida ele abandonara a arte de escarnear os outros. No fim das conversas, punha-se ainda a fazer manguitos aos outros habitantes, porque temia que estes ficassem a dizer mal dele atrás das costas. E de vez em quando, alguém respondia "Ó Senhor Doutor, por favor... Isso nem parece seu!"
Felizmente, o escritor Fialho de Almeida não está vivo, pois se ele tivesse o desprazer de ler este texto, eu seria a próxima vítima dele nos seus livros implacáveis, e largava-me logo dois gatos ou linces assanhados contra a minha pessoa, decerto com melhor feitio do que ele (também não era difícil, verdade seja dita).




Imagem nº 1 - Retrato de Fialho de Almeida com o seu inseparável gato assanhado.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O legado romano do Monte da Cegonha em Selmes

Como observamos no artigo anterior, a ponte que gera tanto orgulho nesta aldeia não é afinal romana, mas sim produto do moderno século XVI.
Contudo, é certo que esta localidade foi outrora ocupada na Idade Antiga pelos romanos. Como testemunha, temos a villa instaurada no Monte da Cegonha no decurso do século I d. C., e que manteria inclusive uma ocupação até ao século XII, atingindo até a Plena Idade Média.
O conjunto está implantado no sopé de uma encosta suave, junto a uma pequena linha de água de regime irregular (o Barranco de Pexém) que acaba por se ligar à Ribeira de São Pedro.


Monte da Cegonha visto da villa romana

Imagem nº 1 - O Monte da Cegonha em Selmes.
Retirada de: http://www.panoramio.com/photo/59846364, (Sound Verite)


O abastecimento de água na villa terá sido feito mediante a presença dum pequeno aqueduto (ao nível do solo), poço e tanque (utilizado igualmente para banhos), garantindo igualmente as necessidades mais básicas.
Um incêndio a leste da villa, forçou a necessidade de reconstrução da mesma. No decurso da sua segunda fase, houve lugar para a criação de termas, mas manteve-se ainda o anterior tanque (localizado no sector oeste). Em finais do século III d. C. ou apenas nos inícios do século IV d. C., denotou-se uma nova reformulação. É verdade que algumas das estruturas anteriores foram preservadas ou reaproveitadas, mas agora encontraremos uma villa que adopta uma arquitectura tardia, na qual apresenta uma planta que se desenvolve longitudinalmente no sentido Norte-Sul, com duas fachadas (uma virada para oeste e outra para leste), e gerando talvez acesso a um grande pátio murado. A norte são construídas termas mais modernas. Juntamente com estes novos edifícios, terá sido construída uma nova basílica (séc. IV), presumivelmente composta por três naves com cabeceira recta tripartida, que manteria o seu culto durante quatro séculos, sofrendo intervenções na era visigótica.. A Basílica teria ainda nas suas proximidades uma necrópole (cemitério antigo), cujas sepulturas assentavam numa caixa composta por materiais reutilizados nomeadamente pedra, tijolo e tegulas.
De facto, a última campanha arqueológica no local detectou vários materiais atribuídos às mais diversas fases históricas desta ocupação milenar (romanos, visigodos e muçulmanos), mas os mais recentes remontam ao século XII, época que condiz com o avanço da Reconquista Cristã Portuguesa, tendo as suas consequentes perturbações bélicas ocasionado o abandono definitivo deste lugar que afinal já levaria mais de um milénio de ocupação, embora os dados recolhidos até então ainda se pautem pela escassez, pois trata-se dum período muito antigo.




Imagem nº 2 - As Ruínas Romanas no Monte da Cegonha (Selmes - Vidigueira).
Retirada de: http://www.panoramio.com/photo/59846389, (Sound Verite)


Villa romana do Monte da Cegonha (Selmes)

Imagem nº 3 - Restos de um antigo edifício...
Retirada de: http://www.panoramio.com/photo/59846381, (Sound Verite).




Achados de relevo


Durante as escavações arqueológicas, descobriram-se elementos com um tremendo valor cultural. Uma delas foi a caixa-relicário (supostamente datada do séc. VI) encontrada na Basílica e que era revestida por mármore de S. Brissos. Foram ainda detectados medalhões, medalhas, fragmentos de objectos de cerâmica, materiais de construção, entre outros artefactos.
Ainda em jeito de curiosidade, vislumbrou-se um exemplar do jogo do moinho, tradicionalmente romano, que assentava numa base de tijolo em cerâmica. Recorde-se que os romanos eram fervorosos adeptos dos jogos de lazer. Apesar das damas e do xadrez não serem jogos essencialmente romanos (o primeiro parece ser medieval, o segundo terá sido inventado pelas civilizações asiáticas), a verdade é que, nesses tempos, haviam outros que reivindicavam maior protagonismo, nomeadamente o jogo do moinho, o alquerque dos doze, o jogo do soldado, a tabula, o jogo do galo (ou da velha)...
No caso em concreto do jogo do moinho, as regras eram as seguintes: cada jogador recebia 9 peças, o objectivo passava por colocar três peças em linha (na horizontal ou vertical, mas nunca na diagonal), e sempre que isso acontecesse, o mais habilidoso ou sortudo poderia retirar uma peça ao adversário. Quando este último, ficasse apenas com duas peças (isto é, já sem qualquer hipótese de fazer linha ou moinho) perdia o jogo. Esta partida, apesar de ter perdido muita força nos dias de hoje, ainda motiva algumas competições entre a juventude. O mesmo deverá ainda estar disponível gratuita e virtualmente na Internet, pois já o testei, embora tenha perdido sempre nas poucas vezes que o joguei.
Os romanos do Monte da Cegonha já sabiam o que era diversão...





Referências Consultadas:


  • ALFENIM, Rafael; LOPES, Maria Conceição - A Basílica Paleocristã/Visigótica do Monte da Cegonha (Vidigueira) in IV Reunião de Arqueologia Cristã Hispânica. Barcelona: Instituto de Estudos Catalães, 1995.
  • MOUTINHO, Alarcão; LOPES, Conceição; ALFENIM, Rafael - A Caixa Relicário do Monte da Cegonha - Selmes (Vidigueira). Arqueologia e Laboratório in IV Reunião de Arqueologia Cristã Hispânica. Barcelona: Instituto de Estudos Catalães, 1995.
  • Pedras que jogam. Jogos de Tabuleiro de outras épocas. Exposição promovida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Museu da Cidade e Câmara Municipal de Lisboa. Deste catálogo, retiramos a imagem citada em cima.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Ponte "Romana" de Selmes

A Ponte "Romana" ou Velha de Selmes é seguramente um dos principais focos de interesse desta aldeia alentejana, pertencente ao Município da Vidigueira. O Brasão da Freguesia ilustra o simbolismo da agricultura e das suas terras férteis (destaque para a produção de trigo), o impacto do Sol na paisagem e no quotidiano comunitário, e claro num plano central, é exibida a ponte que muitos julgaram e apelidaram erroneamente de romana, porque deduziram que a sua antiguidade seria muito maior.






Imagem nº 1 - O Brasão da Freguesia de Selmes



A ponte de que realmente falamos remonta afinal ao século XVI, isto é, aos inícios da Idade Moderna. Nem sequer é medieval, quanto mais da era romana! Agora, é evidente que esta ponte, construída com técnica de alvenaria, tentou seguir ou imitar a influência arquitectónica há muito tempo adoptada (com arcos de volta perfeita, talha-mar e guardas-baixas) pelos romanos (e talvez este tenha sido um dos principais motivos para que se gerassem interpretações precipitadas), mas isso não faz dela oriunda dessa era mais ancestral.
Mesmo assim, não deixa de revelar a sua antiguidade (pois assim sendo terá cerca de 500 anos de existência, o que não é pouco tempo, embora longe dos 1500/1600 anos mínimos de antiguidade que poderiam ser atribuídos a qualquer estrutura do período romano). A sua robustez estrutural e a feliz integração na paisagem envolvente fazem desta ponte histórica um lugar apelativo e digno de merecer inúmeras visitas.





Imagem nº 2 - A Ponte "Romana" ou Velha de Selmes é outro ponto de referência a ter em conta no Município da Vidigueira.
Retirada de: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=9816, (SIPA, artigo da autoria de José Falcão e Ricardo Pereira).

A Ancestral, mas agora saudável, Rivalidade entre Vidigueira e Vila de Frades


Alcunhas Depreciativas


Vidigueira - Vaidosos, Larga o Osso (ou Não Largam o Osso).








Vila de Frades - Farrapeiros, Orelhudos.







Noutros tempos, chegou a haver lançamento de pedradas uns contra os outros, e até injúrias e discriminação. Hoje, a rivalidade é muito mais pacífica e engraçada, podendo os ilustres residentes destas duas terras terem acesso a tais impressões nas conversas de café, bares e discotecas.
Todos nós sabemos que a Vidigueira sempre se opôs à trasladação das ossadas de Vasco da Gama (o seu conde famoso) para o Mosteiro dos Jerónimos (em Lisboa), tal como, por outro lado, é pública a fama dos frades capuchos de Vila de Frades que desfilavam nas ruas com os seus modestos trajes, embora estes suficientemente capazes de serem elogiados por uma Paula Bobone (quem sabe - eh eh eh).
Para além de partilharem estas alcunhas depreciativas, apraz-me salientar que estas duas localidades tiveram em comum o facto de terem recebido forais e de preservarem um estatuto municipal por vários séculos. Para além disso, devemos ainda ressalvar a sua tradição religiosa, atestada pela existência de mosteiros, capelas, ermidas...
Agora já se pode atravessar a ponte da ribeira do Freixo que separa a Vidigueira de Vila de Frades sem ser necessário recorrer ao uso de capacetes! Reza a tradição que qualquer vizinhança nunca se dá bem inicialmente, mas depois esta começa a entender-se aos poucos... e a relação amadurece, produzindo frutos!
E ainda bem, pois a confluência de esforços destas duas localidades maravilhosas só pode dar bons resultados.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Considerações sobre a Praça 25 de Abril (Vila de Frades)



Imagem nº 1 - A Praça 25 de Abril, outrora designada de Praça Nova, ostenta edifícios seculares.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Descrição Pormenorizada da Imagem


Ao lado esquerdo, temos os Paços do Concelho do século XVII (extinto em 1854; o edifício em concreto é aquele que possui no seu cimo uma torrela com sino). 
Em 1849, cinco anos antes do fim da era concelhia vilafradense, sabemos que a localidade, juntamente com a freguesia de Vila Alva (incorporada desde 1836), albergaria 2 877 habitantes (contrastando radicalmente com o actual cenário de desertificação). 
Ninguém ainda apurou ainda as origens exactas deste Município. O documento mais antigo que encontramos visando a existência do dito concelho, remete-nos para o segundo foral, da era manuelina, outorgado em 1512. Mas o primeiro foral, outorgado pelo Mosteiro de São Vicente de Fora a Vila de Frades, perdeu-se irremediavelmente, contudo cremos que o mesmo poderá ser talvez dos séculos XIII (mais provável pela necessidade de povoamento e consolidação económica nos últimos anos do processo secular da Reconquista Cristã) ou XIV. Se este nosso raciocínio estiver correcto, Vila de Frades teria sido sede de município por 500 ou 600 anos, tendo ainda que partilhar a sua influência com os senhorios eclesiásticos (o Mosteiro vicentino de São Cucufate detinha terras que poderiam ir até à Serra de Portel e Cuba, outorgou o primeiro foral que se perdeu, e esteve ainda na origem da designação toponímica desta terra - Vila de Frades, ainda assinalada por outros templos célebres que a constituem) e nobiliárquicos (caso dos Gamas que se estabeleceram nos Paços do Castelo da Vidigueira, mas que promoveram aqui algumas iniciativas, nomeadamente a construção dum segundo convento - o de Nossa Senhora da Assunção - 1545 (capuchos-franciscanos).
Ao longe podemos ainda ver o cimo da Igreja Matriz (ladeada pelas suas duas torres sineiras), cuja construção foi assegurada entre 1696 e 1707 a mando da Câmara Municipal de Vila de Frades, contando ainda com o patrocínio dos religiosos vicentinos e dos conceituados Gamas. O seu altar-mor, de estilo rocócó e barroco, impressiona qualquer visitante, tal é a sua beleza indescritível coroada pela talha dourada. Alberga ainda quatro altares laterais que mereceram a devida decoração sumptuária. Apesar de a vermos, é necessário salientar que este templo majestoso encontra-se no Largo de São Cucufate (ora nem mais, o nome do orago da freguesia). 
Do lado direito, temos a rua de Lisboa, a "rua fidalga da vila", como assim a designava Fialho de Almeida na sua obra "País das Uvas".
Ao centro, a Praça verdejante, colorida de laranjeiras, pavimentada com calçada à portuguesa, centrada com um chafariz (ou "bica", como é designado popularmente) datado de 1900 (terá substituído aí o velho pelourinho, claro símbolo do antigo regime) e que revela ser agora um espaço acolhedor de mesas e cadeiras que farão parte do Novo Centro de Leitura dedicado a Fialho de Almeida, e cuja inauguração estará para breve.
A foto foi tirada a partir do segundo piso do Museu da Casa do Arco, outro edifício histórico que outrora albergara uma prisão masculina, conforme o gradeamento das janelas do piso inferior ainda pode testemunhar.
A Praça 25 de Abril, antigamente denominada de Praça Nova, é um dos sítios mais emblemáticos da freguesia de Vila de Frades e até do concelho da Vidigueira. Está repleta de história, o que orgulha certamente os vilafradenses.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Núcleo Museológico da Casa do Arco atraiu mais de um milhar de visitantes

Este Museu, sito no Largo Dr. José Luís Conceição Silva (Vila de Frades), que reúne o espólio arqueológico extraído da villa romana de São Cucufate, e que conta ainda com a presença de exposições temporárias que visam diversos conteúdos culturais, conseguiu atrair 1357 visitantes no passado ano de 2013.
Um número considerável, e que se deve em muito, à ocorrência de visitas guiadas tanto destinadas a grupos séniores como escolares.
De novo, verificou-se uma afluência interessante de estrangeiros (nomeadamente ingleses, franceses, espanhóis, brasileiros) e de portugueses vindos de outras partes do país.
Não acedemos ainda ao número total de visitantes nas Ruínas Romanas de São Cucufate (o único Monumento Nacional do Concelho), mas não hesitamos em referir que será muito superior, já que nos anos anteriores, o número costumava aqui variar entre os 3 e 5 mil visitantes.
Em suma, a tradição histórica de Vila de Frades conhece um elevado peso a nível nacional, e quiçá, internacional.
Já agora volto a insistir que venham visitar a nova exposição sobre Manuel Ribeiro ("O Trabalho e a Cruz") que se encontra exposto no piso superior do núcleo museológico vilafradense.



A foto em cima foi retirada a partir de: http://www.viladefrades.pt/.



Nota: Aconselhamos ainda que visitem o site gratuito por nós criado em: http://casadoarco.wix.com/ruinasromanas (contém dados sobre a história, a localização, os eventos, os horários, os contactos... para as Ruínas Romanas de São Cucufate e Museu da Casa do Arco). 



A villa romana de São Cucufate, com o seu estatuto palaciano, continua a entusiasmar os seus inúmeros visitantes. O mosteiro medieval crúzio ou vicentino consagrado a São Cucufate (posteriormente Capela dedicada a São Tiago Maior) é um dos principais focos de interesse.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Uma caminhada triunfante pelo Largo José Afonso e Rua Dr. José Valentim Fialho de Almeida - Vidigueira

No largo José Afonso (ou melhor, em honra do célebre Zeca Afonso, autor da célebre canção "Grândola, Vila Morena") e na rua Dr. José Valentim Fialho de Almeida (assim designada em jeito de memória a um ícone da escrita, natural de Vila de Frades) encontramos alguns espaços interessantes, os quais favorecem a ocorrência de momentos de bem-estar e lazer.
Ao longe, e seguindo pela rua citada anteriormente, observamos, no seu cimo, a Torre do Relógio que, em 1520, foi dotada com um sino doado pelo famoso Dom Vasco da Gama, 1º Conde da Vidigueira (1519-1524). Dada a sua antiguidade, nada nos impede de pensar que as origens desta estrutura pudessem remontar ao período medieval, embora sejam algo discutíveis as suas funcionalidades primitivas.
Já agora se se sentirem mal durante esta nossa caminhada, podem sempre deslocar-se à farmácia que se localiza logo no início da Rua Dr. José Valentim Fialho de Almeida. Aliás, e por uma questão de curiosidade, o erudito que consagrou o nome a esta rua, apesar de famoso escritor, foi formado em Medicina!




Imagem nº 1 - A Torre do Relógio da Vidigueira destaca-se pela sua altura.



Imagem nº 2 - Maior zoom sobre a mesma.


E já agora não se comportem mal, senão podem ser detidos pelas autoridades! Na nossa caminhada pedestre, transportamos sempre os nossos documentos e não abusamos na velocidade de andamento, sob pena de sermos penalizados com uma multa! É claro que estou a brincar um pouco... Eh eh eh



                            

Imagem nº 3 - O posto territorial da GNR na Vidigueira que zela pela segurança e bem-estar na vila.


No largo José Afonso, detectamos um conjunto de pedregulhos, circundado por algumas palmeiras. Sinceramente, desconheço qual o significado desta configuração, até porque, na minha perspectiva, deveria existir um letreiro que elucidasse os visitantes. Mesmo assim, deduzo, embora incorrendo, neste caso, no risco de estar completamente equivocado, que se trate duma referência às origens pré-históricas, baseadas na detecção de monumentos megalíticos no concelho. Se esta não é a interpretação correcta, agradecia pois que alguém me esclarecesse sobre este assunto.



Imagem nº 4 - O largo mistura o exótico com o histórico.



Imagem nº 5 - A Vidigueira conhece raízes ancestrais. 
Destaque ainda para o edifício do Crédito Agrícola que também pode ser observado na imagem.


Nas proximidades, visualizamos ainda a estação de Correios da Vidigueira. Como nunca me dirigi aí, não sei se a mesma ainda se encontra em funcionamento, até porque existe outro posto semelhante, este em clara actividade, no Largo dos Quintalões. Certo é que está na altura de escreverem uma carta para a vossa apaixonada, até porque está a chegar o entusiasmante Dia de São Valentim. 
Aí se localizam os serviços de finanças que podem estar em vias de extinção (houve inclusive uma manifestação recente para impedir a cessação deste serviço) dada a conjuntura crítica do país.



Imagem nº 6 - A estação dos Correios reúne, na sua zona envolvente, jardins muito bem tratados.



Imagem nº 6 - As Finanças da Vidigueira podem estar em causa! É mais um direito que o povo perde!



Imagem nº 7 - Outra perspectiva sobre este largo edifício, esteticamente colorido no seu redor.



Imagem nº 8 - É um sítio aprazível para meditar e conversar com os nossos familiares e amigos.


A minha barriga começava a roncar intempestivamente, e como sempre fui um confesso lambareiro, desejei comer um pequeno bolo, isto para além de tomar um café, para me avivar no restante percurso. Claro que até chegar ao sítio ideal para recarregar as minhas baterias, eis que voltei novamente a contemplar um corolário de árvores convidativas, junto a alguns prédios. 



Imagem nº 9 - Sabe tão bem caminhar pelo Largo José Afonso.


Antes de tomar o meu café e o bolo que assegurariam o meu equilíbrio corporal, eis que detectei um pequeno monumento erguido a honrar a memória do cantor, compositor e poeta português José (ou Zeca) Afonso, uma das figuras incontornáveis da Revolução de 25 de Abril de 1974.



Imagem nº 10 - Zeca Afonso não foi esquecido pelos vidigueirenses.



Imagem nº 11 - Neste lado em concreto, podemos ler a seguinte inscrição:

JOSÉ AFONSO
POETA-CANTOR
1929-1987
CÂMARA MUNICIPAL DA VIDIGUEIRA
25-4-1998


Claro que esta caminhada foi encetada antes da chegada da Stephanie, que veio toda mal humorada, e já mandou muita coisa pelo ar. Se calhar, o seu amado ainda não lhe enviou a carta amorosa, e depois, é claro que nós temos que levar com a frustração da mulher! Isto não se faz!
Vou-me embora, antes que ela me mande, com os seus habituais golpes de Karaté, contra algum edifício.

Nota - As fotos são todas da autoria do Mensageiro da Vidigueira, mas autorizamos a partilha livre das mesmas.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Nova Exposição - "O Trabalho e a Cruz" de Manuel Ribeiro no Núcleo Museológico da Casa do Arco

Natural da freguesia de Albernoa, Concelho de Beja, Manuel Ribeiro (1878-1941) foi um dos escritores portugueses que mais se destacou nos inícios do século XX. 
Foi poeta, romancista, jornalista, tradutor, activista político e ainda um anarco-sindicalista no decurso da Primeira República. Tornou-se num dos primeiros escritores a divulgar as vivências da cultura alentejana.
Os seus textos mereceram o reconhecimento da crítica em geral. O vilafradense e acérrimo crítico literário Fialho de Almeida reconheceu mesmo a "imaginação e talento evocativo, grande abundância de temas, e facilidade extrema de compor" na pessoa de Manuel Ribeiro, aconselhando-o mesmo a tirar um curso científico.
Tal como Fialho, também Manuel Ribeiro demonstraria o seu desgosto pela Primeira República recém implementada, não poupando acusações aos responsáveis pelo novo sistema político do país. Chegaria mesmo a ser detido em 1920, mantendo na altura ligações ao Partido Comunista. Apesar disso, nunca escondeu a sua devoção sincera pela fé católica nos romances que publicara.
Este autor que vendera milhares de exemplares das suas obras na década de 20, publicaria ainda em 1929 uma pequena monografia sobre o Alentejo, onde não deixa de falar das cidades, arte, economia, tradições e costumes desta região.
Para conhecerem mais pormenores sobre a sua vida é imperioso visitarem a nova exposição patente no Núcleo Museológico da Casa do Arco (Vila de Frades - Vidigueira).





Imagem nº 1 - Manuel Ribeiro espera por si no Núcleo Museológico da Casa do Arco.



Imagem nº 2 - A sua vida e obra.




Imagem nº 3 - A exposição contém 12 ou 13 panfletos esteticamente e ordenadamente apelativos.



Referências Consultadas: SILVA, Rui Gabriel - Manuel Ribeiro. O Trabalho e a Cruz. Beja: Biblioteca Municipal de Beja - José Saramago e Câmara Municipal de Beja, 2013. 
A primeira foto com o retrato de Manuel Ribeiro foi retirada de: http://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/09/11/exposicao-sobre-a-obra-e-a-vida-de-manuel-ribeiro-e-inaugurada-esta-sexta-feira-dia-13-na-universidade-de-evora/. As três seguintes, após a concretização do texto, são da minha autoria.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Museu Municipal da Vidigueira

Na praça Vasco da Gama, podemos contemplar o Museu Municipal da Vidigueira, outrora uma escola primária (esta vigorou entre 1884 e 1991), como podemos testemunhar através das salas de aulas ainda conservadas, com a distinção evidente para os alunos, consoante o sexo.
Posteriormente, neste espaço cultural, observamos os ofícios tradicionais daquele concelho, desde a agricultura, passando pela pesca (no caso específico de Pedrógão junto ao rio Guadiana, podemos visualizar um barco tradicional com as redes de pesca), e alcançando até o sector industrial.
Esta colecção etnográfica que honra a história do concelho só foi possível através da doação generosa de particulares, evitando assim que todas estas peças desaparecessem irremediavelmente. Preservar o património é pois uma necessidade, nem sempre devidamente levada em consideração no nosso país.
Museu de VidigueiraSe nunca usufruiu da oportunidade de visualizar o espólio histórico que aí se encontra, não hesite em deslocar-se ao sítio em questão. Decerto que reconhecerá muitas das tradições dos séculos anteriores, que não só se restringem ao concelho da Vidigueira, mas ao Alentejo na sua melhor vertente.
No seu redor, os visitantes podem ainda vislumbrar a estátua de Dom Vasco da Gama, Descobridor do Caminho Marítimo para a Índia e Conde da Vidigueira entre 1519 e 1524. Destaco igualmente as laranjeiras que coroam todo aquele pavimento esteticamente colorido (quiçá representando, talvez com tonalidade azul, as ondas dos mares outrora enfrentados pelo ser humano), embora respeitando os moldes gerais da calçada portuguesa, e ainda os repuxos e a esfera (talvez espelhando o Mundo desvendado cartograficamente pelos exímios navegadores) que fornecem um cariz mais atractivo e até simbólico.



Referências Consultadas:

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Os Pelourinhos da Vidigueira e Vila de Frades (texto nº 100)

Com um estatuto municipal que remontaria à Idade Média, não é de admirar que Vidigueira e Vila de Frades possuíssem o seu próprio pelourinho, símbolo das justiças medieval e moderna, ou melhor, do Antigo Regime, extenso período pautado por penas severas (as práticas de enforcamento e decapitação eram aplicadas com alguma regularidade, isto para além da amputação de membros, o que poderia ocorrer em casos de furto, outros poderiam ser inclusive cegados pelas suas presumíveis práticas irregulares). Como se não bastasse, não nos podemos esquecer que, nessa altura, não haveria a presunção de inocência do acusado, aliás, ele entrava praticamente como culpado e tinha de provar o contrário no julgamento a que estava sujeito.
Estes pelourinhos costumavam situar-se à frente da própria Câmara e normalmente eram constituídos por uma base sobre a qual assentava uma coluna ou fuste, terminando com um capitel. Poderiam ainda conter afloramentos naturais.
Aí eram expostos os criminosos que eram sujeitos ao repúdio popular, e depois estes seguiriam rumo à forca (caso a condenação à morte fosse uma realidade) ou seriam colocados numa prisão para o efeito. Poderia haver ainda açoitamentos e outras formas de humilhação num tempo em que tínhamos classes privilegiadas (clero e nobreza) e desfavorecidas (povo), e cuja hierarquia social (deveras desigualitária) não poderia ser, de modo algum, contestada.
Para existir um pelourinho, é evidente que as Câmaras teriam que possuir juízes próprios que determinassem as penas. Aliás, isto era uma prova da autonomia não só política, mas também judicial destas localidades.
Na Vidigueira, não conseguimos apurar grandes dados sobre a existência do pelourinho, mas este teria forçosamente de existir, já que cada concelho o possuiria. Possivelmente, até se localizaria na actual e modernizada Praça da República, mesmo defronte dos Paços do Concelho que tal, como no caso de Vila de Frades, remontaria potencialmente ao século XVII. Sabemos ainda que estes paços municipais foram alvo duma remodelação promovida pelo Visconde da Ribeira Brava em 1891. No ano de 1941, novas intervenções foram asseguradas, criando uma interface singular que permanece até aos dias de hoje. A presença nas proximidades da antiga cadeia comarcã, igualmente seiscentista (séc. XVII) com janelas engradadas e celas, reforça a tese da instauração dum pelourinho em data desconhecida, embora não tenhamos detectado mais dados sobre o seu paradeiro.
Em relação a Vila de Frades, possuímos informações mais privilegiadas. É dada como certa e segura a descoberta dum fragmento do pelourinho em cantaria, compondo parte do antigo fuste, torso, com feixe de colunelos, e que fora encontrado na Quinta do Almargem. Pela datação proposta, o seu carácter manuelino remete-nos para os inícios do século XVI. Estaria outrora situado, de forma exacta ou apenas aproximada, no lugar do actual chafariz ou "bica" que reivindica protagonismo no centro da Praça 25 de Abril, outrora designada de Praça Nova. Aliás, tal localização não seria de estranhar, dado que, já como disséramos anteriormente, o pelourinho ficaria tradicionalmente à frente dos respectivos paços do concelho.
De acordo com a documentação antiga, a vila possuía dois juízes ordinários, vereadores, um procurador do concelho, escrivão da câmara (que era também da Vidigueira), um tabelião do judicial, entre outros oficiais.
O pelourinho, então quinhentista (séc. XVI), terá sido demolido em circunstâncias desconhecidas nos finais do século XIX. 
Recorde-se que a autonomia política e judicial de Vila de Frades foi uma realidade adquirida, tendo a dita terra recebido dois forais: o primeiro em data desconhecida outorgado pelos monges de S. Vicente de Fora (segunda metade do século XIII? século XIV?), enquanto que o segundo, seria promulgado pelo rei D. Manuel I em 1 de Junho de 1512, confirmando o anterior que se perdera irremediavelmente (curiosamente, a Vidigueira também recebeu foral manuelino exactamente na mesma data). O concelho vilafradense perdurou até 1854, ano da sua extinção e integração no concelho da Vidigueira.



Notas fotográficas - A primeira imagem é, mais concretamente, o desenho dum pelourinho elaborado por Pinho da Silva. A segunda fotografia retrata os históricos Paços do Concelho da Vidigueira, enquanto que a derradeira espelha o fragmento do pelourinho manuelino de Vila de Frades, encontrado na Quinta do Almargem nos anos de 1994-1995.

Apontamento extra - Não descartamos ainda a presença dum pelourinho nas proximidades do ancestral Castelo da Vidigueira, mas esta é uma outra hipótese longe de ser confirmada.



Referências Consultadas:
  • MALAFAIA, E.B. de Ataíde - Pelourinhos Portugueses. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1997.
  • Paula Figueiredo e Ricardo Pereira, SIPA, http://www.monumentos.pt/

Nota: Voltamos a agradecer ao Sr. Rosa Mendes todo o manancial de informação que nos disponibilizou.