domingo, 12 de janeiro de 2014

Uma especialista em doçarias vive na Vidigueira

Vidigueira - Para a «Estrelinha» doces sem carinho não saem bons

Na cozinha pouco farta da mãe, na Vidigueira, deu os primeiros passos na doçaria. Na vila alentejana há 40 anos que adoça a boca dos que entram na pastelaria Estrela. Maria Luísa, a doceira proprietária, já é conhecida como a «estrelinha». Os anos dedicados aos bolos deixam-na revelar um segredo: os bolos também precisam de carinho para saírem bons.

Sara Pelicano | sábado, 13 de Novembro de 2010

A vila da Vidigueira traz à memória de muitos os vinhos e as laranjas. Mas em terras do Baixo Alentejo fala-se também de doces, maioritariamente conventuais. Foi a esta arte de juntar ingredientes saborosos que Maria Luísa se dedicou.

Maria Luísa começa, tímida, a contar que foi na cozinha da mãe que fez os primeiros bolos, apesar dos parcos recursos da família. «O meu pai era caiador, faleceu era eu muito nova. A minha mãe ficou sozinha e as patroas do meu pai davam muitas coisas. Assim de uma vez tirava um ovo, quando havia mais açúcar, tirava uma colherada. Ia assim até ter quantidade para fazer um pão-de-ló, por exemplo».

«Quando a minha mãe dava conta eu já tinha um bolo feito», conta já mais à vontade com a estranha que interpela numa feira de turismo náutico em Reguengos de Monsaraz. «Costumo vir a estas feiras. Acho que agora já sou conhecida um pouco por todo o Portugal», diz enquanto parte uma fatia de bolo de requeijão.

«Este é o meu preferido», confessa. Maria Luísa tem uma fábrica de produção e também uma pastelaria na vila alentejana onde dá a conhecer o saber feito pela experiência. O cabelo grisalho deixa perceber que a idade já vai avançada. Maria Luísa, de baixa estatura, mãos ágeis, coloca os bolos nas vitrinas de exposição.

«Já sou conhecida como a estrelinha», acrescenta.

O dia começa cedo. Pelas cinco horas da manhã, o marido de Maria Luísa acende os fornos. Na noite anterior, um dos bolos característicos da Vidigueira, os folhados e rodilhas ficaram a «fintar» e pela manhã cozem.

Na lide diária, Maria Luísa conta com a ajuda da filha, que lhe segue os passos na cozinha dos doces. A «Estrelinha» faz agora um apontamento sério: «sabe menina, não gosto de fazer albardas». «Albardas?», pergunto.

«Sim, bolos mal feitos. Sabe que os bolos precisam de carinho para saírem bem-feitos», conta Maria Luísa, deixando escapar um dos segredos da sua arte.

Aos folhados, juntam-se outros bolos doces tradicionais como o pão de rala, o bolo de gila e amêndoa, conhecido na vila como bolo das noivas por ser o escolhido para assinalar o casamento, o bolo de mel e o bolo rançoso.

As latas onde o bolo rançoso é cozido são untadas com banha. Antigamente, o porco era morto uma vez no ano, e os processos de conservação da banha eram menos refrigerados do que agora. Assim, quando se recorria à banha para untar as formas, esta já estava rançosa, passando um pouco para o bolo.

É assim que nasce o bolo rançoso. A amêndoa, a gila e os ovos são os ingredientes mais utilizados na doçaria tradicional alentejana



Notícia retirada na íntegra a partir de: http://www.cafeportugal.net/pages/sitios_artigo.aspx?id=2107, (artigo da autoria de Sara Pelicano - Café Portugal).

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