sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O Convento de Nossa Senhora das Relíquias - Quinta do Carmo

Um dos edifícios mais simbólicos da Vidigueira é, sem dúvida, o Convento de Nossa Senhora das Relíquias pertencente à ordem carmelita.
As suas origens remontam aos finais do século XV, talvez por volta do ano de 1496. A tradição popular menciona que o aparecimento da Virgem a uma humilde pastora (nos anos de 1480-1481, mais concretamente no lugar da Várzea) terá desencadeado a criação de todo este novo culto.
Evidentemente, o cenóbio recém-instalado gozou imediatamente de protecção especial por parte dos Gamas, condes da Vidigueira, que acabaram por ser sepultados nesse lugar religioso (por exemplo: os restos mortais de Vasco da Gama que sempre mostrou afeição por este convento estiveram aí repousados entre 1539 e 1898, data da sua trasladação para o Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa). 
A igreja conventual foi reconstruída em 1593, por iniciativa de D. Miguel da Gama, que nunca chegou a ser conde da Vidigueira visto que era apenas o segundo filho do 2º Conde da Vidigueira (D. Francisco da Gama). Este edifício serviu de panteão para os descendentes do almirante, condes da Vidigueira e marqueses de Nisa.
Com o decreto da extinção das ordens religiosas em 1834, o convento cairia, tal como muitos outros, num cenário de abandono o que culminaria com a sua venda em hasta pública. Nos finais do século XIX, o visconde da Ribeira Brava, que viria a ser responsável por todo aquele património, traçou uma remodelação do edifício original. O antigo cenóbio passaria agora a ser o palacete duma família nobre. As obras destes viscondes prolongaram-se pelo século XX. Até a própria Igreja viria a ser destituída do seu carácter primitivo, funcionando aí um celeiro, isto é, nada mais do que um armazém de utensílios de lavoura e adega.
Em termos de descrição estrutural, começamos por observar uma cerca conventual, detentora dum portal armoriado e ladeado por pequenas torres octogonais. Em frente da Igreja, ergue-se um cruzeiro pétreo do século XVII.
O templo em si revela-nos uma construção fortificada com a presença de varandas, empenas e torres. Sobre a portal principal, visualizamos ainda uma figura tardo-setecentista desenhada em mármore com inscrição alusiva a D. Vasco da Gama .
O interior, profanado e modificado, é composto por uma única nave. Para além do coro, o tecto incorpora pinturas dos medalhões que ostentam cruzes da Ordem de Cristo e escudos de Portugal. No altar principal, pode ser observado ainda um quadro da autoria de Simão Rodrigues que retrata a Ascensão da Virgem. Mas é certo que, noutros tempos, o templo conteve outros painéis (talvez datados dos séculos XVI-XVII) que acabaram por se dispersar por inúmeras áreas de residência.
Na capela dedicada ao Santíssimo Sacramento, anteriormente consagrada a Nossa Senhora da Conceição, pode ser observado um fresco dos inícios do século XX que representa a Última Ceia. Nesse lugar, temos ainda o monumento fúnebre dedicado ao padre André Coutinho, uma personalidade do tempo de D. Miguel da Gama que terá professado no Oriente antes de se estabelecer no convento, onde fundaria na nova igreja a sua capela tumular.


Imagem nº 1 - A Quinta do Carmo e o lendário Convento de Nossa Senhora das Relíquias.




Imagem nº 2 -  Perspectiva mais aproximada sobre este agradável templo.



Poema sobre a Quinta do Carmo
(Autor: Mensageiro da Vidigueira)


Ah! Na Vidigueira, existe um lugar emblemático,
É o Convento de Nossa das Relíquias,
Inserido num ambiente estático,
Mas no qual a conjunção de cores ilustra nobres fasquias!


Dom Vasco da Gama venerava este Convento lendário,
Onde antes a Virgem aparecera a uma pastora
Que levava uma vida batalhadora,
Motivando a criação dum culto primário.


Dom Miguel da Gama esmerou-se pela sua conservação,
Era o lugar mais cativante da vila,
Decerto que os peregrinos, noutros tempos, faziam fila
Para orar pela sua eterna salvação.


Que Convento imponente e fortificante!
Acolhedor de obras de arte
E dos túmulos de quem, na história universal, tomou parte,
Naquele período intenso e desgastante!



Imagem nº 3 - Postal antigo sobre a Cerca Conventual.


Outra curiosidade: De acordo com a tradição popular, as freiras deixaram-nos imensas doçarias (nomeadamente a gila e o mel) que foram transmitidas de geração para geração, o que revela a sua vocação para a arte da gastronomia.


Referências Consultadas:


Nota: Agradecemos ao Sr. Rosa Mendes o manancial de informação que nos cedeu generosamente para a elaboração deste e doutros estudos.

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