domingo, 26 de janeiro de 2014

Os frescos dos templos de São Cucufate

Após o abandono da villa por parte dos romanos no século V d. C., rezam as crónicas de que se instalou inicialmente uma igreja paroquial do período visigótico junto ao actual tablinum/átrio, e da qual restarão, caso tenha efectivamente existido (tema que ainda gera alguma controvérsia), apenas ruínas. Referem alguns historiadores antigos que seria um convento beneditino, mas o que é certo, é que não encontramos pinturas murais desse período da Alta Idade Média, todavia a sua existência não pode ser excluída de todo.
Na fachada setentrional, e a partir de meados do séc. XIII, iniciar-se-à o processo de instalação dos monges crúzios do Mosteiro de S. Vicente de Fora, já que em 1255 receberam com o consentimento do rei D. Afonso III e D. Martinho (bispo de Évora) todo aquele casarão, originalmente romano, de forma a instaurarem o seu culto em torno de São Cucufate, o padroeiro daquele templo, o que farão através do reaproveitamento parcial do antigo armazém romano (adega/celeiro do século IV d. C.). Os monges vicentinos promoverão o povoamento da terra, organizarão as actividades económicas (estimularão aqui a produção agrícola), e como novos senhores eclesiásticos da vila, outorgarão foral em data incerta (e que seria confirmado pelo rei D. Manuel I em 1512). São estes mesmos frades que estarão por detrás da designação toponímica desta terra. O mosteiro vicentino de São Cucufate irá prolongar-se até meados ou finais do século XVI. Durante a sua permanência por mais de 300 anos, detectamos já alguns frescos pintados neste templo medieval. Deste período (séc. XIII-XVI), chegaram até aos nossos dias duas pinturas murais que reivindicam o estatuto de maior antiguidade. A primeira, datada dos finais do século XIV, exibe presumivelmente o padroeiro São Cucufate (conhecido por ter sido degolado pelos romanos na Catalunha nos inícios do século IV d. C.) ladeado por duas Santas Mártires. Esta decoração pictórica trecentista encontra-se mesmo no antigo presbitério. 



Imagem nº 1 - O fresco mais antigo do templo parece representar São Cucufate rodeado por duas outras santas.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira


Do século XV ou dos inícios do século XVI, visualizamos ainda uma modesta imagem que representa, num dos alicerces dos arcos, a Virgem com o menino ao colo, embora o seu estado se encontre já muito degradado, podendo mesmo passar despercebido entre muitos dos seus visitantes. Também este fresco deverá ter sido pintado anonimamente no período em que os monges crúzios ainda aí professavam. É provável que tenham existido outras pinturas desse longínquo período, mas é certo que não se conservaram até aos dias de hoje.
Em meados ou finais do século XVI, ocorre o abandono por parte dos últimos monges que deixam definitivamente o sítio do Mosteiro consagrado a São Cucufate, passando agora este espaço a acolher uma Capela dedicada a São Tiago Maior. A estatueta de São Cucufate fora deslocada para a Igreja Matriz de Vila de Frades, sendo que agora no cimo do altar estava uma estátua equestre de São Tiago. O culto seria assegurado pelos capelães sustentados pela Santa Casa da Misericórdia de Vila de Frades que abriam, com alguma regularidade, as portas do templo aos fiéis e peregrinos. Assim o foi até 1723, data do falecimento do derradeiro ermitão que culminará na desertificação e no amaldiçoado vandalismo que se fez sentir posteriormente naquele histórico local.
É neste período de pouco mais do que cem anos que assistimos ao auge artístico daquele lugar de culto. José de Escovar, um pintor provavelmente de origem espanhola mas residente em Évora, é o homem escolhido para colorir mais aquele espaço. É da sua autoria o retábulo fingido que ilustra São Tiago Maior e São Bartolomeu. Em cima, ainda se pode visualizar o fresco do Baptismo de Jesus Cristo por São João Baptista. Estas obras de arte terão sido realizadas por volta de 1600, isto é, na transição entre os séculos XVI e XVII.



Imagem nº 2 - O retábulo fingido que retrata, na parte inferior, São Tiago Maior e São Bartolomeu (?). Na parte superior, é ilustrado o baptismo de Jesus Cristo. A oficina eborense de José de Escovar foi responsável por esta intervenção do Período Moderno.
Foto da minha autoria



Na segunda metade do século XVII, procede-se ao revestimento do corpo da nave e da cobertura abobadada da Capela/Ermida de São Tiago. É neste preciso momento que se pintam os anjos, os símbolos solares, os santos do hagiólogo, cobrindo assim grande parte daquela ornamental capela!
No início do século XVIII, realizou-se ainda algumas pinturas na zona do templo constituída pelo espaço entre a entrada e os primeiros arcos, nas paredes e na cobertura.




Imagem nº 3 - Anjos músicos, símbolos solares e ainda o escudo da Ordem de Santiago.
Foto da minha autoria



Imagem nº 4 - Maior zoom sobre o tecto/cobertura.
Foto da minha autoria




Imagem nº 5 - Vulto talvez dum santo ainda não identificável.
Foto da minha autoria



Imagem nº 6 - São Diogo.
Foto da minha autoria



Imagem nº 7 - São Francisco de Assis e São Bento.
Foto da minha autoria



Imagem nº 8 - Anjos tocando instrumentos musicais, e símbolos solares.
Foto da minha autoria



Imagem nº 9 - Outra perspectiva, em que se destacam ainda as barras ornamentais.
Foto da minha autoria



Imagem nº 10 - Santo António com o Menino Jesus e um crucifixo.
Foto da minha autoria



Imagem nº 11 - A parte superior do retábulo e a cobertura.
Foto da minha autoria



Imagem nº 12 - Vista exterior a partir da entrada do templo, repleto de frescos que causam euforia nos seus visitantes.
Foto da minha autoria


Referências Consultadas: 

  • MOURA, Abel; CABRITA, Teresa; SERRÃO, Vitor - As Pinturas Murais do Santuário de São Cucufate. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, 1989.
  • ALARCÃO, Jorge - Roteiros da Arqueologia Portuguesa - São Cucufate. IPPAR, 1998.

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