quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Casa do Conselheiro Justino Matoso

Na rua Poeta João Xavier de Matos, visualizamos um edifício solarengo que deverá remontar ao século XVIII (ou, em último caso, aos inícios do século XIX!). Trata-se da célebre habitação que chegou a acolher, no decurso do século XIX, um conceituado conselheiro e par do reino (1862) que também chegou a desempenhar as funções de deputado (1857) e de administrador geral de Beja. Nas suas proximidades, existe ainda uma horta que terá pertencido igualmente a esse oficial de nomeada.
O seu nome é Justino Maximo Baião Matoso (1799-1882). Era filho de Joaquim Matoso (amigo e protector do célebre poeta João Xavier de Matos, sepultado na Igreja Matriz de Vila de Frades) e de Maria Vitória, e deveria ser natural de Vila Nova da Baronia (Concelho de Alvito). 
Em 1825, terá contraído matrimónio com Maria José Pessanha. Deixou uma filha - Maria Luísa Infante Baião Matoso que se casaria com  Tristão Guedes Correia de Queiroz, 1º marquês da Foz. 
Justino Matoso teria ainda pertencido aos Cavaleiros da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa a partir de 1837.
Faleceria presumivelmente em Vila de Frades a 29 de Junho de 1882, e encontra-se sepultado num mausoléu do cemitério público da localidade. Refira-se que a sua sepultura chegou a ser posteriormente vandalizada por gente sem escrúpulos e respeito pela dignidade humana. Mesmo assim, o seu jazigo detém características que atestam a sua especificidade. 
Sobre a Casa do Conselheiro, consideramos pertinente o seguinte excerto da obra de Fialho de Almeida que procede à sua caracterização:


"A Casa do fidalgo ficava no outro extremo da vila, isolada dos casebres por uma alameda de freixos enormes. À roda era a horta, e por detrás dos laranjais, o olival sem fim. (...) A casa do conselheiro mal aparecia ao fundo, com a sua linha de grandes janelas morgadias, cujas pesadas cimalhas avultavam numa faixa confusa de granito" (ALMEIDA, Fialho de - Contos, p. 111). 


A habitação conta actualmente com nove varandas (ou balcões de sacada!), 3 portas de cor verde, e um portal com grades encimado por um azulejo interessante de Nossa Senhora das Dores. Pelo que apuramos ainda, a fachada é composta por alvenaria caiada de branco, destacando-se ainda frontões estilizados e urnas decorativas. O edifício parece incorporar ainda árvores seculares, e um velho tanque de pedra circular, detendo uma taça de repuxo com elementos naturalistas. Poderá ser ainda portador dum importante espólio, em termos de mobiliário e de peças de arte. Numa das dependências altas, existe a capela familiar, fechada com portas de talha exemplarmente esculpidas.
Recorde-se ainda que foi neste edifício que se achou uma janela manuelina (cujas origens desconhecemos) e que seria (re)colocada mais recentemente junto à Torre de Menagem que hoje testemunha a existência dum antigo castelo, cujos paços foram habitados pelos Gamas, condes da Vidigueira.



À procura do Exmo. Sr. Conselheiro Baião Matoso
(Poema da autoria do Mensageiro da Vidigueira)


Após a Igreja Matriz e a Junta de Freguesia avistar
Enveredei pelo caminho a sul
Estava um dia gélido sem qualquer andorinha-do-sul
Que sobrevoasse alegremente para um sorriso me arrancar!


Continuei a peregrinar nestas ruas de calçada portuguesa,
Ora não estivéssemos numa localidade tradicional,
Onde se desfruta dum ambiente consensual,
E que potencializa o vinho como uma certeza!


Mas necessitava eu dum elaborado conselho,
Sobre um assunto específico
Que só poderia ser solucionado por alguém honorífico
Talvez um ancião mais velho!


Soube da prévia existência de Baião Matoso,
Um par do reino de excelência,
Oxalá que ele seja amistoso
E me resolva esta questão de existência!


A Casa do Conselheiro finalmente encontrei,
Procurava pelo sábio conselheiro.
Oxalá que ele não me cobre dinheiro,
Senão, nesta crise, definitivamente me afundarei!


Infelizmente, as três portas estavam encerradas,
Certamente, a nossa célebre individualidade estava ausente
A tratar dum dossier mais premente
E assim ninguém veio à varanda dar-me as vitais coordenadas,




Imagem nº 1 - A histórica Casa do Conselheiro alberga nove balcões de sacada, 3 portas verdes e várias janelas.






Imagem nº 2 - O portal gradeado, encimado pelo azulejo de Nossa Senhora das Dores e por frontões.








Imagem nº 3 - A horta que antigamente fora tutelada pelo Conselheiro. Situa-se logo após o Posto Médico da localidade.




Imagem nº 4 - O Mausoléu onde estão sepultados os restos mortais de Justino Maximo Baião Matoso. O jazigo destaca-se pela presença de dois anjos que veiculam a seguinte inscrição: 

"JAZIGO DE FAMILIA DO CONCELHEIRO E PAR DO REINO JUSTINO MAXIMO MATOUZO BAIAO"


No canto inferior esquerdo, pode ler-se uma segunda inscrição:


"FEITO NA OFFICINA DE SEVERIANO J. D ABREU AOS PAULISTAS EM LISBOA 90 92"


Nota extra - Cremos que o actual cemitério público de Vila de Frades, situado junto à actual estrada que segue em direcção a Alvito, deverá remontar ao século XIX, até porque não conseguimos detectar jazigos mais antigos (embora não tenhamos usufruído da oportunidade de ler todas as lápides que se encontravam nas sepulturas). Contudo, não descartamos ainda de todo que o mesmo tivesse sido criado no século XVIII, embora mantenhamos as nossas dúvidas (estamos mais inclinados para uma criação deste no século XIX, porém no passado, talvez o cemitério se localizasse noutro espaço da antiga vila e não nos podemos esquecer que muitos dos restos mortais eram anteriormente depositados nos templos cristãos ou no seu redor). Certo é que se trata dum cemitério pequeno, embora esteja previsto o seu alargamento. Para além disto tudo, encontra-se ainda dotado dum parque de estacionamento.



Referências Consultadas:

  • ALMEIDA, Fialho de - Contos. Porto: Lello & Irmão-Editores, 1981 (originalmente publicado em 1881).
  • ESPANCA, Túlio - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Beja, Lisboa, 1992.
  • PESSANHA, José Benedito - Os almirantes Pessanhas e sua descendência. Porto: Imprensa Portuguesa, 1923. 
  • Diário do governo: 1822, Edições 152-230, ver p. 1446. Digitalizado integralmente no Google Books.
  • http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=104374, (Consultado em 29-01-2014).
  • Fotos tiradas a partir do meu telemóvel.

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