sexta-feira, 28 de março de 2014

Poema XVIII - Um Frade Trecentista de São Cucufate


Na era medieval, eu era um monge
Pançudo, por natureza,
Cabeçudo, por motivação,
Censurava-me nas celas monásticas
Com a Caveira que me relembrava sadicamente
O carácter fugaz da vida. 

Deixava o Convento,
E peregrinava em direcção aos outeiros da vila,
Procurando o contacto com o nosso Salvador!
Afastava-me dos vícios mundanos,
E juntamente com a minha veste acinzentada,
Enfrentava dias de chuva e frio!

Às vezes, esbofetava-me no caminho,
Chicoteava-me pelos meus erros,
Era assim a devoção nestes tempos!
Depois iria à Igreja orar pelo nosso adorado mártir,
São Cucufate, um dos ícones cristãos da Catalunha!
Claro que depois o meu estimado prior 
Me incumbia nefastamente de cobrar os impostos à povoação!

A minha sepultura é uma das que foi aberta
Na antiga necrópole monástica!
Ninguém sabe o meu nome,
Mas faço parte dum grupo clerical
Que cedeu a designação a esta vila dos Frades!
Esbocei o primeiro foral da terra,
Pintei os primitivos frescos do Mosteiro,
Mas só um ou outro é que resistiu aos tempos!

São Cucufate no meio de duas Santas Mártires,
É o nosso padroeiro que, no presbitério, orgulhosamente ilustrei!
Adorado pelos nossos habitantes,
Que, em seu nome, depositaram orações e esmolas!
Ah! E eu que tinha de me confessar todos os dias,
Porque às vezes comia um pouco demais à refeição!

Acusavam-me de beber demasiado vinho!
Mas o que é que querem?
Não resistia a esta tentação gastronómica da vila!
E até às escondidas, ia lá espreitar as talhas!
Mas uma vez fui apanhado:
Ouvi tremenda reprimenda por parte do prior
E fui castigado com um jejum durante vinte tenebrosos dias!

Mas aos mais pobres, por vezes, também ofereci pão!
Nem todos os frades eram assim!
Uns mais egoístas,
Outros seguramente mais honestos e solidários.
Rezar eucaristias a todo o momento pelas almas pecadoras,
Era esse o destino destes frades maioritariamente celibatários! 


(Poema sem rima da autoria do Mensageiro da Vidigueira)



(O fresco em baixo é do séc. XIV, e encontra-se no Mosteiro crúzio dedicado a São Cucufate. No mesmo, encontra-se o padroeiro São Cucufate, rodeado por duas Santas Mártires. É a pintura mais antiga deste lugar de culto inicialmente medieval).




Suspeitas de Feitiçaria em Vila de Frades

Boatos estão, neste preciso momento, a ser circulados e discutidos por alguns habitantes da localidade. Desconhece-se ainda se estes rumores têm algum fundo de veracidade. 
Mas uma coisa é certa - colocar velas só vai poluir mais o ambiente, pois quem acredita em feitiçarias, só está a perder o seu tempo com práticas fúteis.
Não vale a pena alimentar invejas ou ódios. A vida é para ser seguida em frente com paz, harmonia e amor. Se querem atingir algo de bom, proponho que consigam fazer o vosso melhor nesse sentido, e se precisarem, podem rezar e pedir ajuda divina, algo que eu também já fiz no passado.
Agora não acreditem que os seres humanos tenham poderes especiais... Acreditar em bruxas ou videntes, é a mesma coisa que crer em homens aranha, batman's e lobisomens!
Se existem bruxos com poderes, então desafio-os a tirarem-me a vida até hoje à noite! Como não conseguirão tal proeza, terão todos que me aturar até finais de Junho!




Imagem nº 1 - A Feitiçaria não resolve problemas. O período mitológico medieval já lá vai... As consciências devem despertar para a realidade científica do modernismo.



Em termos históricos, esta não é a primeira vez que a feitiçaria é documentada em Vila de Frades. Nos tempos da Inquisição, Manuel Fialho Rosquinho, escrivão de profissão e natural desta terra, foi preso em 1738, acusado de heresia e irreverência  por parte do Tribunal do Santo Ofício, mas não sabemos se de facto cometeu actos de "magia".
Menos sorte parece ter tido Leonor Gonçalves, natural da Vidigueira mas moradora em Vila de Frades, que foi acusada de feitiçaria, superstição e trato com o demónio. Foi detida em 1675, tendo sido ameaçada de tormento, contudo confessou as suas culpas (basta saber em que circunstâncias!). A data do seu auto de fé decorreu em 1683, embora desconheçamos se foi condenada à fogueira ou se conheceu uma punição mais leve.


Ficheiro:Pedro Berruguete Saint Dominic Presiding over an Auto-da-fe 1495.jpg

Imagem nº 2 - O Tribunal do Santo Ofício não perdoava qualquer desvio à fé católica, e esteve mesmo enraizado na Península Ibérica.
Quadro que retrata um auto de fé.


Processos e descrições consultadas no Site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo:

quinta-feira, 27 de março de 2014

Poema XVI - Vila de Frades, o recanto duma terra pitoresca


Quando atravesso a desdenhada ponte,
Vejo, do outro lado, o Joaquim a realizar suas caminhadas,
O Jacinto a andar alegremente de bicicleta,
Tudo gente deveras simpática,
Valorizadora duma sincera Humildade
Que nos abre, com hospitalidade, este belo horizonte.

Pelo caminho recto, avisto posteriormente a Escola Primária,
À qual Fialho de Almeida deixou um legado,
Assim testemunha aí a Escultura de Bronze
Construída em sua merecida homenagem!
As crianças aí estudam e correm,
Debitam sobre as letras do alfabeto e as contas de matemática.

Mais à frente, dois edifícios de vulto
Impõem respeito aos curiosos!
A Igreja Matriz, imponente e sumptuária,
Representativa duma Paróquia
Onde se promoveu, por vários séculos, um culto sério
Em torno do Mártir São Cucufate.

A sede da Junta de Freguesia
Espelha uma arquitectura peculiar onde o atendimento
Decorre sempre com seriedade e harmonia;
Logo depois, vou tomar o meu café
No mercado, mais à frente, onde reina a simpatia,
Usufruindo assim dum agradável acolhimento!

Prosseguindo com o sábio trajecto,
Avistam-se, já de perto, as laranjeiras da Praça 25 de Abril,
No centro, alguns velhinhos falam das novidades
Junto à centenária e simbólica "Bica",
Uns desesperam pela inauguração do Centro de Leitura,
Outros vão jogar as suas desafortunadas raspadinhas!

Ao lado, os antigos Paços do Concelho,
Encimados por uma torrela com sino de rebate miguelino,
Atestam um passado independente
Garantido pelo antigo pelourinho
Símbolo da justiça medieval,
Onde se punia quem por aí cometia o mal!

Estamos ao chegar ao Arco,
No piso inferior, resquícios da antiga cadeia,
Conforme o gradeamento aí observado,
Onde se detinha o vulgar marginalizado!
As andorinhas por aí vagueiam
E anunciam-nos que agora o edifício é um museu
Que recorda a herança romana!

Sim, a poente da localidade encontram-se as enormes ruínas
Duma antiga e palaciana villa romana,
Onde uma família explorava o vinho e o azeite
Para deleite da comunidade local
Que, ao longo dos tempos, conhecera uma evolução total!
Quem me dera ter vivido no piso nobre e tomar banho nas termas!

Em Vila de Frades, brilha ainda o vinho de talha,
Que honrosamente é apresentado nas suas típicas adegas!
As suas ermidas destacam-se pela sua beleza interior
Reforçando a tradição religiosa
Que esteve na origem do nome desta saudável terra!
Ai que eu também já caminho como um frade!!!




(Poema da autoria do Mensageiro da Vidigueira)

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Dia Mundial da Árvore - 21 de Março

O Dia Mundial da Árvore não passou despercebido em Vila de Frades. Alunos das escolas desta aldeia alentejana saíram para plantar árvores no Bairro Dr. Alfredo Caetano da Silva. É um acto promovido pela Junta de Freguesia local desde há uns anos para cá. 
Através desta iniciativa, pretende-se educar as crianças para a essência da Natureza, já que esta é cada vez mais desrespeitada na actualidade pelo ser humano do nosso Mundo.
Há comportamentos que têm de mudar, e por isso, estas iniciativas são sempre de ressalvar pela positiva.



Imagem nº  1- A plantação de novas árvores contribui para o equilíbrio natural.
Foto da autoria de Luís Amado


Também na Vidigueira, desenvolveram-se práticas semelhantes, com a participação dos alunos da Escola Básica Integrada que plantaram igualmente novas árvores.

Poema XV - A Harmonia da Natureza no Concelho da Vidigueira


Caminho incessantemente
Procurando a harmonia perfeita
Nesta terra, a Vidigueira da boa colheita!
Que deslumbra os demais visitantes
Uns mais sérios, outros mais extrovertidos
Que vêm aqui provar os seus ilustres vinhos!


Por vezes, o aroma dos campos
Intromete-se no quotidiano,
Assinalando a tradição já antiga
Que visava a exploração da lavoura!
Povo trabalhador e alegre,
Que ainda nos cede pão e laranjas!


Até o Vasco da Gama se rendeu,
Assumindo o orgulho em possuir um novo condado,
Onde seria bem agraciado,
E cujos sucessores legariam a sua obra!
Na Quinta do Carmo, acedemos ao lendário
E acima de tudo a uma parte vital da história desta terra.


As igrejas, capelas e ermidas modernas
Impressionam pelos seus frescos, azulejos e esculturas
Algumas delas possuem um inesquecível miradouro 
Onde encontro a paz e a sintonia total com a mãe Natureza
Sinto-me um privilegiado, 
Não por estes últimos governos descoordenados,
Mas pela beleza verdejante daqueles outeiros.


Esqueço os problemas e as angústias,
Sinto com nostalgia o momento,
Contemplo as aves que sobrevoam,
Escuto as águas de pequenos riachos
Que seguem o seu destino,
Tal como todos nós, seres vulneráveis.


A Torre do Relógio não me deixa mais divagar,
Está a tocar irremediavelmente o seu sino!
Já são aquelas horas, eu não acredito!
Tenho de ir para casa efectuar as minhas tarefas domésticas,
Para depois dormir a minha sesta alentejana,
Na qual recordo esta majestática experiência primaveril.


Poema sem rima.
Autoria Mensageiro da Vidigueira




Imagem nº 1 - A Paisagem da Vidigueira vista a partir da Ermida de São Rafael.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira

quinta-feira, 20 de março de 2014

Vila de Frades combate as carências e vai ao encontro dos mais necessitados

Para além de ter apoiado algumas melhorias no sector habitacional, a Junta de Freguesia de Vila de Frades, em parceria com a Associação Humana, optou ainda por colocar um contentor para a recolha de roupa usada no Largo de São Cucufate, mesmo junto à Igreja Matriz. 
Se tiverem coisas que já não vos sirvam, não as deitem para o lixo, mas sim neste contentor para que as roupas sejam reaproveitadas ou até recicladas, no caso de se encontrarem num estado extremo de degradação.
Como sabem, os tempos actuais não são nada fáceis e, qualquer ajuda, por muito pequena que seja, pode ser suficiente para arrancar sorrisos a gente que até então vive no limiar da pobreza.
Não custa nada colaborar!
Antes de votarem materiais no lixo, pensem sempre muito bem, se eles não seriam úteis para outras pessoas. Ás vezes, mais vale doar do que destruir...



Imagem nº 1 - Vila de Frades já tem o seu contentor para depositar roupa usada, no Largo de São Cucufate - junto à Igreja Matriz.
Foto da autoria de Luís Amado

terça-feira, 18 de março de 2014

Frei António das Chagas, a história dum missionário franciscano e poeta

Outra personalidade muito célebre na história da Vidigueira foi Frei António das Chagas, embora o seu nome verdadeiro fosse António da Fonseca Soares.
Nasceu na Vidigueira em 25 de Junho de 1631, filho de pai português (fidalgo e juiz de profissão) e de mãe irlandesa. 
A sua juventude decorreu no Alentejo, tendo estudado no Colégio dos Jesuítas em Évora, mas não conclui os seus estudos devido à morte do seu pai, e assim, com ainda 18 anos, teve de retornar à Vidigueira. Alistar-se-á no exército e participará na Guerra da Restauração da Independência Nacional, mas não tarda nada começaria a revelar a sua veia poética. Contudo, e ainda nesta fase de plena rebeldia juvenil, comete alguns excessos, e com o seu temperamento impetuoso, envolve-se em aventuras controversas, algumas delas relacionadas com questões amorosas. Assim sendo, em 1653, quando tinha 22 anos de idade, teve que fugir para o Brasil porque seria perseguido pela Justiça Portuguesa pois era suspeito de ter causado a morte de um rival em duelo. Durante três anos permanecerá em Baía, sem alterar o seu estilo de vida irreverente. Todavia, um texto de Frei Luis de Granada (frade dominicano espanhol do século XVI que desempenhara as suas missões em Portugal) o sensibilizou para a fé cristã.
De regresso a Portugal, em 1656, volta a participar activamente no conflito que ainda se mantinha entre os dois países ibéricos, é promovido a capitão em Setúbal, mas em 1662, renuncia definitivamente à vida militar e entra na Ordem de São Francisco em Évora. Agora a sua vida conheceria uma nova fase que seguramente contrastaria radicalmente com os seus vícios mundanos do passado.
Frei António das Chagas percorreu várias terras do Alentejo, Algarve e restante país, pregando o Evangelho. O seu empenho ardente, combativo e até exagerado mereceu o respeito de multidões que o ouviam atentamente nos lugares por onde ele passava. 
Em 1680, passaria a viver no convento de Varatojo (Torres Vedras), e fundará dois anos depois, o Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes, em Setúbal, o qual serviria para formar novos missionários.
Enquanto poeta, utilizou diversos géneros poéticos, nomeadamente sonetos, madrigais, romances, décimas, glosas, dois poemas heróicos. Recordará a efemeridade da vida e os desenganos a que estamos sujeitos. Demonstrará ainda a sua devoção religiosa, apelando igualmente à bondade humana. E exaltará igualmente a beleza feminina e voltará a relembrar o conflito entre o espírito e os prazeres sensuais da carne, aos quais este frade tinha renunciado.
Como pregador, os seus sermões (alguns encontram-se reunidos em obras - por exemplo: as Cartas Espirituais) tiveram um considerável impacto. Frei António das Chagas chegava ao ponto de se esbofetear no púlpito, ou até de atirar o crucifixo para cima do auditório, desde que conseguisse passar a sua mensagem de forma mais clara para aqueles que o seguiam com atenção.
Faleceu a 20 de Outubro de 1682, no Varatojo (Torres Vedras), sendo que os seus restos mortais repousam numa campa rasa no centro da Sala do Capítulo do Convento.
Recentemente, em 2010, 13 poemas da sua autoria foram traduzidos para língua russa, numa edição concretizada em São Petersburgo. Tal parece comprovar a actualidade dos seus escritos...


Ficheiro:Frei António das Chagas.png

Imagem nº 1 - Frei António das Chagas, ou António da Fonseca Soares, conheceu uma vida de contrastes - uma juventude de vícios e aventuras, e a conquista posterior da sua vocação para a religião católica.

Imagem nº 2 - O Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes em Setúbal, fundado pelo vidigueirense Frei António das Chagas em 1682, ano que igualmente acabaria por ditar o falecimento do nosso biografado.
Foto: IGESPAR



Imagem nº 3 - Largo Frei António das Chagas na Vidigueira, um sítio seguramente acolhedor na Primavera e no Verão.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Referências Consultadas:

A promoção da Cilarca à moda da Vidigueira

A Câmara Municipal da Vidigueira irá promover um dos produtos da sua gastronomia local - trata-se da Cilarca, a qual já tive a honra de provar num restaurante em Vila de Frades. Não é por nada, mas na vida, só tinha provado cogumelos (os quais sempre apreciei), mas depois de saborear, pela primeira vez, aquelas divinais cilarcas alentejanas, foi um orgasmo palativo, se é que podemos dizer assim. Aquele aperitivo para o meu estômago, equivale a uma musa exótica, e por isso, igualmente merecedora, quem sabe, dum poema meu no futuro, gabando-lhe as suas qualidades.
Se estiverem interessados em participar Na Rota das Cilarcas que decorrerá no dia 22 de Março devem inscrever-se previamente (o custo de inscrição é de 13 euros). Para mais informações, devem consultar os serviços da Câmara Municipal, sendo que aí poderão conhecer pormenorizadamente o programa previsto para esse dia que promete ser animado e deveras delicioso!




Imagem nº 1 - A Câmara Municipal da Vidigueira aposta na divulgação da Cilarca.
Direitos do Cartaz - CM da Vidigueira

domingo, 16 de março de 2014

Miguel de Spinoza, o comerciante judeu que nasceu na Vidigueira e foi respeitado em Amesterdão

A família de Spinoza, como o nome poderá eventualmente sugerir, seria originária da cidade castelhana de Spinoza dos Monteros (norte de Espanha). Com o decreto de Alhambra (em 1492) pelos reis católicos Fernando e Isabel, foi proibida a residência dos judeus no país. O reino vizinho de Portugal acolheria muitas destas pessoas, contudo, foi um cenário que duraria por pouco tempo, já que em 1498, Dom Manuel I, também forçaria a conversão ou a expulsão dos judeus.
A família de Spinoza que se tinha estabelecido em Portugal no ano de 1492, saindo assim de Espanha, escolheu converter-se forçosamente ao catolicismo no ano de 1498. 
Dentro deste contexto, Miguel de Spinoza, o pai do famoso filósofo moderno Baruch Spinoza, nasceria cerca de um século depois, na Vidigueira, talvez por volta do ano de 1587. 
Como a condição de cristãos novos era seguramente perigosa no século XVI, sobretudo devido à impiedosa investigação realizada pela Inquisição sobre a autenticidade daqueles no seguimento da fé católica, e talvez ainda por uma questão de negócios, a família de Spinoza (quando Miguel ainda era uma criança) terá rumado a Nantes (França), aonde permaneceram até 1615, altura em que a discriminação e intolerância religiosas voltaram a ser o prato amargo do dia. Não restou outra alternativa a este núcleo familiar, senão emigrar para os Países Baixos.
Isaac de Spinoza dirigiu-se para Roterdão, falecendo aí em 1627. Miguel de Spinoza, vidigueirense de nascimento, e o seu tio Manuel Rodrigues, escolheram Amesterdão como nova localidade de residência. Eles abraçaram aí livremente o judaísmo. 
Miguel de Spinoza casou-se por três vezes com: Raquel (deixa uma filha chamada Rebeca), Ana Débora (mãe de Spinoza e de mais três filhos - Miriam, Isaac e Gabriel) e Ester de Spinoza (prima de Miguel que ajudará a cuidar dos seus filhos). 
A nível profissional, Miguel dedicar-se-ia ao comércio, área onde ganhou o respeito naquela enorme cidade holandesa. Motivado pelo seu sucesso, foi ainda director ou guardião da sinagoga e escola judaicas de Amesterdão.
A sua família viveria no lugar que corresponde ao actual bairro de Waterlooplein, no qual viviam muitos judeus. A sua casa seria espaçosa, mas sem aparentar grandes luxos, tendo a mesma sido demolida mais tarde no século XVIII.
Este vidigueirense de nascimento faleceria naturalmente em Amesterdão no ano de 1654, mas o legado da família seria assegurado exemplarmente pelo seu filho Baruch Spinoza, nascido em 1632 naquela cidade, e que seria indiscutivelmente um dos principais racionalistas do século XVII.



File:Espinoza estatua.jpg

Imagem nº 1 - Estátua de Baruch Spinoza (1632-1677), notável pensador que era filho do vidigueirense Miguel Spinoza. Esta escultura pode ser visível em Haia, na Holanda.



Imagem nº 2 - Túmulo do vidigueirense Miguel de Spinoza, talvez localizado algures em Amesterdão.
Foto de Roeland Koning


Referências Consultadas:

terça-feira, 11 de março de 2014

Poema XIV - A Ribeira do Freixo e a Ponte da Rivalidade



Poema XIV - A Ribeira do Freixo e a Ponte da Rivalidade
(Poema da autoria do Mensageiro da Vidigueira)


Um curso de água nasce na Serra do Mendro,
Desce triunfantemente até sul,
Brilha desde Janeiro até Dezembro,
Merecendo o respeito do supremo céu "azul".


Trata-se da Ribeira do Freixo,
Aquela mesmo que separa os larga o osso dos farrapeiros,
Ou melhor, os vaidosos dos orelhudos,
Colocando assim a rivalidade no eixo!


Corajosos aqueles que, noutros tempos, a atravessavam,
Quando tudo era alvo de discriminação,
Até ao vizinho as injúrias não poupavam,
O qual chegava a sofrer com episódios de humilhação.


A ponte, a tal que confere acesso às povoações,
Desdenhada  pelos habitantes da Vidigueira e Vila de Frades,
É motivo agora de inúmeras cumplicidades,
Deixando, um pouco de lado, as antigas tribulações.


Mas a rivalidade ainda não desapareceu,
Apenas esmoreceu gradualmente,
Os mais idosos a recordam como uma fase histórica,
Embora esta não hipoteque as ancestrais ligações que prevalecem definitivamente.





Imagem nº 1 - A ponte encarada a partir do lado de Vila de Frades, a terra dos farrapeiros e orelhudos.



Imagem nº 2 - A ponte da discórdia, vista do lado da Vidigueira, a localidade dos larga o osso e vaidosos.



Imagem nº 3 - A ribeira do Freixo separa duas povoações históricas que ainda mantêm alguma rivalidade.



As fotos são todas da autoria do Mensageiro da Vidigueira que autoriza a sua partilha livre.
Partilhamos estas alcunhas típicas em jeito de brincadeira. 

Exposição Manus & Arte de Paula Salvador no Museu Municipal da Vidigueira

EXPOSIÇÃO MANUS & ARTE”
PAULA SALVADOR – BAG DESIGNER

Integrada no programa das Comemorações do Dia Internacional da Mulher, teve lugar no passado dia 7 de março, no Museu Municipal de Vidigueira, a inauguração da Exposição “Manus & Arte” – malas e acessórios em pele, de Paula Salvador, Bag Designer, que vai estar patente ao público até 6 de abril.

Nota sobre PAULA SALVADOR – Bag Designer

A atividade criativa de Paula Salvador resulta de uma aposta na produção de malas e acessórios em pele que são integralmente feitos à mão, utilizando as mais nobres matérias-primas entre as quais se destacam as peles de moda e de luxo definidas como tendência de estação.
A distinção da qualidade e inovação como fatores emblemáticos das coleções de malas e acessórios resulta de um esforço prévio de formação e aprendizagem de 3 anos que tornou possível recuperar as técnicas tradicionais de criar os modelos, cortar e coser as peles à mão fazendo delas peças únicas e excecionais.
Ao privilegiar a conceção de modelos por medida, destinados aos clientes, evidenciando as suas preferências e gostos, realizam-se malas de sonho com peles de luxo que se transformam em objetos de paixão únicos e irrepetíveis.
As malas e acessórios combinam a sofisticação das peles num compromisso de estilo e conforto em que o design assume um valor primordial. 
A atitude criativa está presente em todas as fases do processo de produção e o permanente desafio proporcionado por criar objetos de moda únicos assume-se como uma dádiva que pretendemos partilhar e promover. 



Imagem nº 1 - Uma nova Exposição foi inaugurada no Museu Municipal da Vidigueira.
Texto e Foto retirados da Página do Facebook da Câmara Municipal da Vidigueira

Actualização do Preçário nas Ruínas Romanas de São Cucufate

De acordo com a mais recente portaria estatal, as entradas para jovens (15-25 anos) e idosos (mais de 65 anos) passam a custar 1, 50 euros, em vez dos anteriores 1, 20 euros. As entradas para adultos mantêm-se nos 3, 00 euros.
Anteriormente, todos os domingos de manhã garantiam o acesso livre e gratuito em São Cucufate, mas a partir de agora, este regime promocional só se aplicará no primeiro domingo de manhã de cada mês.
As novas regras entraram em vigor no início de Março.
O Mensageiro sabe ainda que está em fase de discussão a possibilidade de, a médio ou longo prazo, se cobrar as entradas do Núcleo Museológico da Casa do Arco, verba que, segundo os defensores de tal ideia, seria utilizada para garantir a manutenção do espaço e até a melhoria das condições de recepção ao visitante. Neste ponto, parece ainda não haver grandes consensos.
As reacções populares têm sido díspares. Uns aceitam estas medidas porque pensam que os preços cobrados são bastante acessíveis tendo em conta o património rico da localidade, outros torcem o nariz, acrescentando que esta não é a altura mais indicada para inflacionar os preços do acesso à cultura, já que a conjuntura económica actual é crítica.
Recorde-se ainda que a Direcção Regional da Cultura do Alentejo, a Câmara Municipal da Vidigueira e a Junta de Freguesia de Vila de Frades gerem a manutenção de todo aquele espaço, tendo já realizado intervenções no sentido de preservar e garantir um melhor atendimento nos lugares estipulados. Zelaram ainda para que este monumento nacional nunca fosse encerrado, continuando a atrair anualmente milhares de visitas.




Imagem nº 1 - Nalguns casos, os preços de entrada em São Cucufate aumentaram ligeiramente.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Enterro do Entrudo em Vila de Frades - 2014

O enterro do entrudo do ano de 2014 revelou ser um sucesso em Vila de Frades, não só pela presença dum cortejo na ordem das dezenas de pessoas, isto sem esquecer as centenas de habitantes que aproveitaram aquele dia agradável, digno de Primavera, para assistir, a partir das suas casas, ao cortejo tradicional.
As viúvas (talvez entre 15 a 20 mulheres) demonstraram os seus talentos de autênticas carpideiras, gritando pelas ruas a morte do seu adorado Jacinto, o pobre homem que iria ser enterrado.
Dizem as testemunhas que ele ressuscitou inúmeras vezes, graças ao Deus Baco, a divindade do vinho, já que aquela garrafa alentejana que o acompanhava deu-lhe vida por várias vezes. Claro que houve um altura em que teve a necessidade de sair do caixão para urinar, até porque tinha ingerido líquidos a mais durante o seu insólito enterro.
O percurso começou no Largo de São Cucufate, prosseguiu por várias ruas da vila, e terminaria junto à Taberna Casemiro, isto é, nas proximidades da Igreja da Misericórdia.
O Bispo que fazia o enterro, recordava as qualidades e a memória do pobre coitado que tinha falecido através das seguintes quadras que proferia (antes de as lerem, é bom que tenham a noção que as mesmas foram ditas em tom de brincadeira, e não para ofender a sensibilidade de ninguém):


Até à morte chegou a crise,
Não há dinheiro para caixões,
Enterramos o nosso irmão,
Até à pele dos feijões.


Morreu o irmão careca,
Com a cabeça rachada,
Morreu pensando em comer,
Vomitando sem comer nada.


Veio o padre, veio a freira
O Papa ficou ausente
Enterramos nosso irmão
Acompanhado por tanta gente.


Nesta vida tudo sofre
Sofro eu e sofres tu
Até o nosso irmão sofreu
Quando estava todo nu.


Coitado do inocente, 
Por vezes até dá dó,
Querer morder em tanta gente,
Apenas com um dente só.


Viveste na boa harmonia,
De perto sempre a olhar,
Hoje só nos resta este braço 
Aonde vocês podem agarrar.
(uma das pessoas do cortejo aponta para o objecto genital do morto assemelhado a um braço)


Deixaste de falar ao nosso ouvido
Mas vives no nosso coração,
Recordamos-te todo partido
Atropelado como um cão.


Separamo-nos do teu corpo, 
Nossos Corações estão partidos
Ficou a tua obra de arte,
Eras um bom cão e bom bandido.



Davas-te bem com toda a gente,
Até viveste em altos fornos 
Dos teus grandes amigos
Levavas porrada nos cornos.


E vamos continuar
A vida não acabou
E cheiro foi, se sente no ar
Será o morto que se bufou.



Testamento do Falecido


O testamento encontrado
Escrito com confiança.
Estamos todos incluídos
Na sua pequena herança.


As pulgas e os carrapatos
Os meus maiores amigos
Esses não os dou a ninguém
Não os largo, vão comigo!


Com testemunhos diversos
Vou deixar escrito quem herda
Para todo os que me acompanham
Deixo um grande balde de merda.


Entrego a alma a Deus
O corpo à terra fria
Deixo os colhões à minha mãe
E a picha para a minha tia.




Apesar de algumas palavras mais picantes, a verdade é que os versos geraram inúmeras gargalhadas em todos aqueles que assistiam ao enterro do entrudo.
Estava pois a terminar a época de Carnaval, na qual estas brincadeiras não podem ser levadas a mal!




Imagem nº 1 - O morto despedia-se deste mundo.
Foto da autoria de Luís Amado



Imagem nº 2 - As viúvas estavam desoladas com a partida do homem da sua vida.
Foto da autoria de Luís Amado



Imagem nº 3 - Houve um tempo até para tomar uns bons copos.
Foto da autoria de Luís Amado



Imagem nº 4 - O Deus Baco ressuscitara o morto.
Foto da autoria de Luís Amado



Imagem nº 5 - Muitas pessoas deram os seus pêsames durante o cortejo.
Foto da autoria de Luís Amado



Imagem nº 6 - A nova ressurreição do falecido assustou muita gente.
Foto da autoria de Luís Amado




Imagem nº 7 - O smile do protagonista Jacinto.
Foto da autoria de Luís Amado




Imagem nº 8 - O Bispo ou Padre lia alegremente as quadras que exibimos em cima.
Foto da autoria de Luís Amado



Imagem nº 9 - Nova paragem junto à Praça 25 de Abril para lembrar a memória do Jacinto. O braço a que se referem numa das quadras, pode ser visto na parte inferior do caixão com um topo avermelhado.
Foto da autoria de Nuno Parreira

quarta-feira, 5 de março de 2014

Poema XIII - Os velhinhos da paragem de autocarro (Vila de Frades)


Os velhinhos da paragem de autocarro (Vila de Frades)
(Poema da autoria do Mensageiro da Vidigueira)


Na paragem da camioneta,
Encontram-se uns idosos sentados confortavelmente,
Mas eles não seguem para lado nenhum seguramente,
Apenas contemplam o tempo que passou de forma discreta.


Guardam memórias ricas da aldeia,
Do trabalho dos campos e das suas tradições,
Outrora eles eram uns autênticos borrachões
Lançando a muitos corações uma chama que incendeia.


Mas agora estão parados,
Alguns recordam acontecimentos antigos
Onde se divertiam com familiares e amigos,
Mas a partida de alguns destes deixou-os mais abandonados.


Dizem que faleceu mais outra pessoa da comunidade,
À qual dedicavam eterna amizade,
Mas que agora deixava a terra mais desertificada
E a sua família completamente frustrada.


O tempo não recompensa missões piedosas,
Ele corta-nos os movimentos,
Impõe-nos uma inércia e passividade ruinosas
Que nos leva a expressar, no fim da existência, inúmeros lamentos.


O Centro de Dia tenta garantir a sua distração,
Mas a sua vitalidade está em declínio,
Já não sentem o mesmo fascínio,
E muitos deixam-se levar pela irremediável depressão.



Imagem nº 1 - Muitos senhores com idade avançada costumam estar na paragem de autocarros para conviver e recordar os melhores momentos da sua vida. O Local de paragem na imagem citada situa-se nas proximidades do Centro de Dia, Junta de Freguesia e Igreja Matriz de Vila de Frades.
Foto retirada do Facebook

segunda-feira, 3 de março de 2014

Carnaval da Vidigueira - II (O Desfile de 2 de Março)

Sinceramente, confesso que ficamos surpreendidos com a admirável extensão do desfile, realizado neste Domingo a partir das 15 horas (embora tenha partido um pouco mais tarde). O Carnaval da Vidigueira não se ombreia ao de Ovar, Torres Vedras e Sines, mas mesmo assim, e sem grandes meios de investimento, dignificou muito a tradição com um corso ou entrudo de qualidade. Registamos a envolvência de grupos de animação de Cuba, Vila Alva, Vila de Frades e de outras localidades em redor.
Muitas crianças e até pessoas de idade mascararam-se a rigor e encetaram uma longa caminhada que foi iniciada nas escolas e terminaria no largo da Cascata.
Ao longo das ruas, milhares de pessoas assistiram ao desfile. Havia muitos carros estacionados. Foram assegurados mecanismos de som e um estabelecimento de farturas para deliciar os mais atenciosos.
As autoridades controlaram exemplarmente as operações, impedindo o trânsito nas ruas percorridas e garantindo assim o desenvolvimento natural do evento.
Finalmente, a chuva que foi motivo para o cancelamento de muitos desfiles mais a norte do país, não se revelou um obstáculo ao sucesso do Carnaval da Vidigueira que permitiu momentos especiais de convívio social.
Hoje à noite (dia 3 de Março) haverá ainda bailaricos! 
Infelizmente, não poderei ir porque não sei dançar e tenho assim aptência para calcar acidentalmente os pés das outras pessoas. Eh eh eh 
Espero que se divirtam!


























Todas estas fotos foram tiradas a partir do telemóvel do Mensageiro da Vidigueira, também ele devidamente mascarado na plateia.