terça-feira, 18 de março de 2014

Frei António das Chagas, a história dum missionário franciscano e poeta

Outra personalidade muito célebre na história da Vidigueira foi Frei António das Chagas, embora o seu nome verdadeiro fosse António da Fonseca Soares.
Nasceu na Vidigueira em 25 de Junho de 1631, filho de pai português (fidalgo e juiz de profissão) e de mãe irlandesa. 
A sua juventude decorreu no Alentejo, tendo estudado no Colégio dos Jesuítas em Évora, mas não conclui os seus estudos devido à morte do seu pai, e assim, com ainda 18 anos, teve de retornar à Vidigueira. Alistar-se-á no exército e participará na Guerra da Restauração da Independência Nacional, mas não tarda nada começaria a revelar a sua veia poética. Contudo, e ainda nesta fase de plena rebeldia juvenil, comete alguns excessos, e com o seu temperamento impetuoso, envolve-se em aventuras controversas, algumas delas relacionadas com questões amorosas. Assim sendo, em 1653, quando tinha 22 anos de idade, teve que fugir para o Brasil porque seria perseguido pela Justiça Portuguesa pois era suspeito de ter causado a morte de um rival em duelo. Durante três anos permanecerá em Baía, sem alterar o seu estilo de vida irreverente. Todavia, um texto de Frei Luis de Granada (frade dominicano espanhol do século XVI que desempenhara as suas missões em Portugal) o sensibilizou para a fé cristã.
De regresso a Portugal, em 1656, volta a participar activamente no conflito que ainda se mantinha entre os dois países ibéricos, é promovido a capitão em Setúbal, mas em 1662, renuncia definitivamente à vida militar e entra na Ordem de São Francisco em Évora. Agora a sua vida conheceria uma nova fase que seguramente contrastaria radicalmente com os seus vícios mundanos do passado.
Frei António das Chagas percorreu várias terras do Alentejo, Algarve e restante país, pregando o Evangelho. O seu empenho ardente, combativo e até exagerado mereceu o respeito de multidões que o ouviam atentamente nos lugares por onde ele passava. 
Em 1680, passaria a viver no convento de Varatojo (Torres Vedras), e fundará dois anos depois, o Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes, em Setúbal, o qual serviria para formar novos missionários.
Enquanto poeta, utilizou diversos géneros poéticos, nomeadamente sonetos, madrigais, romances, décimas, glosas, dois poemas heróicos. Recordará a efemeridade da vida e os desenganos a que estamos sujeitos. Demonstrará ainda a sua devoção religiosa, apelando igualmente à bondade humana. E exaltará igualmente a beleza feminina e voltará a relembrar o conflito entre o espírito e os prazeres sensuais da carne, aos quais este frade tinha renunciado.
Como pregador, os seus sermões (alguns encontram-se reunidos em obras - por exemplo: as Cartas Espirituais) tiveram um considerável impacto. Frei António das Chagas chegava ao ponto de se esbofetear no púlpito, ou até de atirar o crucifixo para cima do auditório, desde que conseguisse passar a sua mensagem de forma mais clara para aqueles que o seguiam com atenção.
Faleceu a 20 de Outubro de 1682, no Varatojo (Torres Vedras), sendo que os seus restos mortais repousam numa campa rasa no centro da Sala do Capítulo do Convento.
Recentemente, em 2010, 13 poemas da sua autoria foram traduzidos para língua russa, numa edição concretizada em São Petersburgo. Tal parece comprovar a actualidade dos seus escritos...


Ficheiro:Frei António das Chagas.png

Imagem nº 1 - Frei António das Chagas, ou António da Fonseca Soares, conheceu uma vida de contrastes - uma juventude de vícios e aventuras, e a conquista posterior da sua vocação para a religião católica.

Imagem nº 2 - O Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes em Setúbal, fundado pelo vidigueirense Frei António das Chagas em 1682, ano que igualmente acabaria por ditar o falecimento do nosso biografado.
Foto: IGESPAR



Imagem nº 3 - Largo Frei António das Chagas na Vidigueira, um sítio seguramente acolhedor na Primavera e no Verão.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Referências Consultadas:

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