sexta-feira, 28 de março de 2014

Poema XVIII - Um Frade Trecentista de São Cucufate


Na era medieval, eu era um monge
Pançudo, por natureza,
Cabeçudo, por motivação,
Censurava-me nas celas monásticas
Com a Caveira que me relembrava sadicamente
O carácter fugaz da vida. 

Deixava o Convento,
E peregrinava em direcção aos outeiros da vila,
Procurando o contacto com o nosso Salvador!
Afastava-me dos vícios mundanos,
E juntamente com a minha veste acinzentada,
Enfrentava dias de chuva e frio!

Às vezes, esbofetava-me no caminho,
Chicoteava-me pelos meus erros,
Era assim a devoção nestes tempos!
Depois iria à Igreja orar pelo nosso adorado mártir,
São Cucufate, um dos ícones cristãos da Catalunha!
Claro que depois o meu estimado prior 
Me incumbia nefastamente de cobrar os impostos à povoação!

A minha sepultura é uma das que foi aberta
Na antiga necrópole monástica!
Ninguém sabe o meu nome,
Mas faço parte dum grupo clerical
Que cedeu a designação a esta vila dos Frades!
Esbocei o primeiro foral da terra,
Pintei os primitivos frescos do Mosteiro,
Mas só um ou outro é que resistiu aos tempos!

São Cucufate no meio de duas Santas Mártires,
É o nosso padroeiro que, no presbitério, orgulhosamente ilustrei!
Adorado pelos nossos habitantes,
Que, em seu nome, depositaram orações e esmolas!
Ah! E eu que tinha de me confessar todos os dias,
Porque às vezes comia um pouco demais à refeição!

Acusavam-me de beber demasiado vinho!
Mas o que é que querem?
Não resistia a esta tentação gastronómica da vila!
E até às escondidas, ia lá espreitar as talhas!
Mas uma vez fui apanhado:
Ouvi tremenda reprimenda por parte do prior
E fui castigado com um jejum durante vinte tenebrosos dias!

Mas aos mais pobres, por vezes, também ofereci pão!
Nem todos os frades eram assim!
Uns mais egoístas,
Outros seguramente mais honestos e solidários.
Rezar eucaristias a todo o momento pelas almas pecadoras,
Era esse o destino destes frades maioritariamente celibatários! 


(Poema sem rima da autoria do Mensageiro da Vidigueira)



(O fresco em baixo é do séc. XIV, e encontra-se no Mosteiro crúzio dedicado a São Cucufate. No mesmo, encontra-se o padroeiro São Cucufate, rodeado por duas Santas Mártires. É a pintura mais antiga deste lugar de culto inicialmente medieval).




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