quarta-feira, 17 de julho de 2013

Fialho de Almeida, um erudito de Vila de Frades

Se há personalidade que marcou a história de Vila de Frades, essa foi, sem dúvida, José Valentim Fialho de Almeida. 
Nascido em 7 de Maio de 1857 na terra em cima descrita, este jovem talento, filho dum pequeno proprietário, realizaria os seus estudos num colégio em Lisboa (1866-1871), aonde teria já obtido classificações interessantes enquanto aluno. Contudo, e apesar das dificuldades que teve para prosseguir os seus estudos, Fialho atingiria o auge das suas habilitações académicas, ao formar-se em Medicina, entre 1878 e 1885. Mas não seria nesta área que serviria exemplarmente a Sociedade, mas sim no campo das letras. Os seus célebres textos marcarão uma geração! Aliás, enquanto vivera na capital portuguesa, teria frequentado cafés e tertúlias, convivendo com a intelectualidade da época.
No ano de 1893, regressa ainda à sua região, tendo contraído núpcias com uma mulher abastada - Emília Pego, natural de Cuba (Alentejo), embora esta tivesse falecido, devido a tuberculose, no ano seguinte. Posteriormente, Fialho foi aí lavrador, mas nunca deixou de publicar artigos (para os jornais) e vários contos/crónicas. Também é certo que após o falecimento da sua mulher, empreendeu algumas viagens pela Europa, o que enriqueceu os seus conhecimentos.
A sua obra mais notável intitula-se "Os Gatos", a qual redigiu entre os anos de 1889 e 1894. Também são conhecidos os seus trabalhos "O País das Uvas" (1893) e "A Cidade do Vício" (1882). Os seus livros mereceram um acolhimento significativo por parte da população portuguesa.
Em termos de pensamento, foi considerado, por alguns investigadores, como um artista de natureza anárquica, pois demonstrava a sua revolta para com tudo e todos! Adoptou muito a crítica e a sátira nos seus textos. Em relação aos temas abordados, Fialho privilegiava os seguintes: a vida na cidade, os vícios, a pobreza, a decadência, a vida tranquila e realista da sua região - o Alentejo. De facto, o estilo que adoptou para a escrita, merecerá o respeito e o  temor de muitos. Também não é de estranhar que tenha conseguido atrair bastantes inimizades. Fialho era frontal, dizia o que tinha a dizer, quer gostassem ou não dele! Apontou vários defeitos nos regimes que vigoraram no seu tempo (a Monarquia Constitucional e a Primeira República). Os seus rasgos de génio eram ainda evidentes, o que favorecia o seu estatuto de escritor reputado. É importante constatar ainda que era imparcial e não alinhava em partidarismos. 
Este célebre escritor deixaria o nosso Mundo no dia 4 de Março de 1911 (com apenas 54 anos!), deixando um legado importante à nossa literatura. Os seus textos constituem fontes importantes que permitem analisar as vivências daquele período crítico em Portugal, no qual se dará a transição da Monarquia para a República. Nas suas obras, ele descrevera os problemas que afectavam a sociedade e apresentaria propostas para os ultrapassar que nomeadamente passariam pela educação e instrução do povo, sendo assim possível uma opinião pública esclarecida, de forma a combater a ignorância, a decadência e a corrupção.
O reconhecimento da sua carreira ainda hoje é visível. O seu nome é recordado em inúmeras localidades, nomeadamente na sua terra natal - Vila de Frades (e quiçá no restante concelho da Vidigueira), na qual existe uma escultura e até registos toponímicos em sua memória. 
Mas é em Cuba (Alentejo) que está sepultado. O seu jazigo tem, no topo, uma escultura que representa dois gatos (em alusão a uma das suas célebres obras). Nessa mesma obra - "Os Gatos", ele terá mesmo demonstrado, no seu prefácio, a sua forma de estar na vida e literatura: "miando pouco, arranhando sempre e não temendo nunca".



Imagem nº 1 - Semi-estátua de Fialho de Almeida numa escola em Vila de Frades.
Foto do Mensageiro da Vidigueira


Imagem nº 2 - A casa onde nascera Fialho de Almeida.
Foto do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 3 - Placa de homenagem nesse edifício.
Foto do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 4 - Outra tabuleta que nos elucida sobre a importância que este erudito colhe em Vila de Frades.
Foto do Mensageiro da Vidigueira 



Imagem nº 5 - Outro dado importante - os 150 anos do seu nascimento, comemorados em 2007!
Foto do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 6 - A casa bem como as referidas placas inerentes a Fialho de Almeida podem ser visualizadas neste largo existente em Vila de Frades.
Foto do Mensageiro da Vidigueira


Imagem nº 7 - Fialho de Almeida também é recordado no Espaço Museológico - Casa do Arco.
Foto do Mensageiro da Vidigueira



Afirmações Históricas de Fialho de Almeida (in Citador):


  • "Um cínico disse: só os imbecis se portam bem. E eis aí uma verdade universal.".
  • "Em países cultos e com uma noção definida de liberdade, república e monarquia constitucionais são tabuletas anunciando uma só mercadoria".
  • "Instruir, salubrizar, enriquecer... Nenhuma obra de governo forte pode assentar sobre aquisições que não sejam as derivadas próximas destes postulados máximos e extremos".
  • "Civilizado ou embrutecido, todo o homem é presa de duas forças rivais que constantemente se investem e disputam primazias. Uma, que o reporta ao passado e lhe transmite por hereditariedade as ideias, hábitos e modos de ser e de ver dos antecessores. Outra, evolutiva, que adapta o indivíduo aos meios novos, e não cuida senão de o renovar e transformar rapidamente. A vida humana não é mais que o duelo entre duas forças antagónicas".
  • "A liberdade só é dom precioso quando estejam os povos feitos para ela. Dar a um semibárbaro instintivo as regalias de um ser culto e consciente, é pôr a civilização na contingência de um regresso brutal à barbárie."


 Fontes Consultadas:



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