terça-feira, 29 de outubro de 2013

A Lenda da Pastorinha e o Pão da Vidigueira

A Lenda da Pastorinha!

Reinando neste reino o Sereníssimo Rei D. Afonso V, em torno da vila de Vidigueira havia uma povoação pequena, em que ainda hoje há dois moradores e se chama ao monte dos Alfaiates; vivia nela um lavrador, por nome Pedro Afonso, casado com Margarida Fernandes, e tinham uma filha chamada Maria, que o seu exercício era guardar o gado. Em uma manhã de muito frio lhe disse a mãe que fosse conduzir para o sítio conveniente, ao que ela não duvidou; mas pediu lhe desse pão para almoçar, e como o não tivesse e estivesse para amassar, a persuadiu se fosse, e quando voltasse lho daria. Obedeceu a filha, e pastorando o gado até chegar àquela várzea, se assentou debaixo de um zambujeiro; mas como a fome a apertasse, se pôs a derramar muitas lágrimas e a repetir soluços entre os quais teve a fortuna de ouvir uma voz, que lhe perguntou porque chorava; ao eco levantou os olhos e viu sobre o zambujeiro uma senhora cercada de luzes celestiais, que lhe tornou a inquirir qual era a causa da sua aflição, ao que satisfez, referindo o que lhe tinha sucedido com a sua mãe.
A Virgem Senhora Nossa, que em sua imagem lhe apareceu e fez aquela pergunta, depois de a ouvir, lhe mandou fosse a casa, porque ela lhe teria cuidado do gado até que voltasse, e que pedisse outra vez pão a sua mãe, e que se ela lhe respondesse ainda não o tinha, lhe dissesse fosse ver a arca, que se o não achasse, ela tornaria para o gado contente sem ele. Foi a venturosa menina para casa, e pedindo pão à mãe, lhe respondeu esta que ainda não o tinha amassado; suplicou a filha com a instância que a Senhora lhe tinha dito, o que ouvindo a mãe, a levou dentro à casa em que estava a arca para a desenganar, como quem tinha certeza de que não havia nela pão; e abrindo-a para que a filha visse era verdade o que lhe dizia, ficou admirada de a ver cheia, quando sabia que nela não havia nenhum, e inquirindo a menina quem lhe dissera que na arca havia pão, lhe referiu o que lhe tinha sucedido; e inferindo do que ouvia contar a filha que naquele sucesso havia prodígio grande, deu logo parte ao marido e aos poucos vizinhos que ali moravam, e todos assentaram que fossem ver quem tinha falado à menina para que lhe disseram os guiasse ao lugar, e chegando a ele, apontando com o dedo, lhes mostrou a Senhora em cima do zambujeiro, dizendo para a mãe, aquela é a Senhora que me disse tínheis pão e que me mandou vo-lo fosse pedir, porque ela entretanto me guardaria o gado.
Todos os que vieram a examinar o que a menina referia tiveram a fortuna de ver a Senhora muito resplandecente, e admirados do prodígio, se prostraram todos por terra, e ficando uns reverenciando aquele prodígio celeste, mandaram outros participar esta noticia à povoação mais próxima, a qual então era muito limitada e agora é a vila da Vidigueira.
No mesmo dia foram ao monte dos Alfaiates a ver o prodígio do pão, e depondo todos os da casa que nela não havia, o tiveram por milagroso, e repartindo parte dele pelos que se acharam presentes, ficou ainda para os que depois vieram, e todos o estimaram como relíquia.


(Excerto retirado do Museu Municipal, Página - o Pão da Vidigueira - Facebook)



Azulejo que recorda o pretenso Milagre.


O pão da Vidigueira é deveras excepcional e saboroso. Feito para alimentar o seu povo e os demais visitantes, assume particular importância na evolução deste Condado dos Gamas e mais tarde, Município.
Associado a este produto, base da alimentação, temos então a lenda da Pastorinha, o que reforça mais a importância em torno do mesmo. A rapariga estava, de facto, rendida ao bom pão que nesta terra se fazia! Mas Nossa Senhora reparou no seu desespero, e veio em seu auxílio, segundo nos narra a lenda.
Como são 15 horas, e já me fazem horas na barriga, vou então provar este delicioso produto da nossa gastronomia. 
Uma boa terça-feira para todos os meus estimados leitores!

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