quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Caminhada Triunfante do Mensageiro I (Com cultura e humor)

Num início de tarde gélido, mas igualmente convidativo, o vosso querido Mensageiro da Vidigueira, seguramente um parceiro misterioso que vos acompanha em várias caminhadas pedestres, decidiu deslocar-se por algumas das ruas tradicionais de Vila de Frades. Durante o percurso, ele sentiu o calor humano das pessoas que costumam ter o hábito de se cumprimentarem e desejarem mutuamente um óptimo dia.
Como meio de pagamento de toda esta ternura, é óbvio que tinha de compensar, mais uma vez, promovendo a imagem da sua terra. E por isso, esta crónica passará agora a ser narrada na primeira pessoa. Efectivamente, espero que apreciem esta minha nova rubrica.
Antes demais, confesso que o telemóvel velho que possuo, não é o mais recomendado para tirar fotos. Não tenho problemas em reconhecer, e depois não vejo grande interesse em que o Dr. Pedro Passos Coelho me empreste uma. Cepticismo à parte, iniciei o meu percurso no Largo Dr. José Luís Conceição Silva, um homem que foi professor universitário e um resistente anti-fascista. Muitas das suas raízes estavam em Vila de Frades, mas viria a falecer recentemente no Brasil, contudo chegou a receber uma medalha de mérito pela Junta de Freguesia local em 2008, já seguramente nos tempos finais de vida. Foi nesse momento, em que este largo que alberga o tradicional Museu da Casa do Arco, foi consagrado toponimicamente a esta personalidade.
Evidentemente, e depois de ter contemplado a antiga prisão masculina (hoje Museu), segui o meu instinto e decidi passar pelo espaço do arco cuja peculariedade arquitectónica reclama total protagonismo. É claro que temia ser bombardeado por alguma andorinha que ainda pudesse estar num dos ninhos aí criados recentemente, mas felizmente, não houve qualquer movimento dessa espécie de ave que assim não me enviou uns indesejáveis presentes aéreos de Natal. As andorinhas devem estar quase todas agora noutras paragens mais quentes, mas cá regressarão entre a Primavera e o Verão. Falo-vos de tudo disto porque outrora já tive que levar com mísseis de excrementos na cabeça, mas isso foi mais a Norte.
Com a minha integridade ressalvada, optei por vislumbrar agora a verdejante Praça 25 de Abril (mais uma vez a toponímia da localidade nos remete para a liberdade e democracia). As laranjeiras imperam, o jardim, bem tratado, é um encanto. No centro, temos o chafariz datado de 1900, e ainda se encontram uns banquinhos para que os mais idosos possam sentar-se e conviver. Mas desta vez, havia ainda algo de novo - as mesas e as cadeiras exteriores destinadas ao Novo Centro de Leitura, uma iniciativa bastante útil, que permitirá aos habitantes acederem aos livros e à Internet. Asseguram os habitantes que a inauguração deve estar para acontecer a qualquer momento.
Reparei posteriormente que existiam dois estabelecimentos acolhedores junto à Praça. Por isso, fui tomar o meu cafezinho, comprido se faz favor, para que possa terminar triunfantemente a caminhada que tinha astuciosamente encetado. Claro que no fim, pedi um mimo para o meu paladar, e nada melhor do que um bom chocolate! Não sejam invejosos nem me lancem mau olhado, pois se o fizerem, para a próxima sois vocês que me pagam! Eh eh eh
Prossegui a minha caminhada. O Mercado Tradicional estava encerrado, testemunhavam as duas árvores solitárias que a rodeavam e o portão verde cerrado.
Mais à frente, virei à esquerda, isto é, em direcção à Igreja Matriz de Vila de Frades (construída entre 1696 e 1707), sita no Largo de São Cucufate. Desta vez, os senhores que aí costumavam estar sentados a discutir os jogos da bola, as intrigas da Política Nacional, os casos mais polémicos da Sociedade, decidiram não enfrentar o frio, e ficaram em casa, a ver televisão.
Como bom corajoso que sou, dirigi-me agora rumo à Igreja da Misericórdia, já que se encontrava aí uma nova exposição, mas como ainda não estava na hora da sua abertura, vagueei um pouco por aquela zona. Eu sei que o tempo algo nublado parecia ameaçar a ocorrência de aguaceiros, o que era óptimo para o meu carro (de vez em quando precisa de ser lavado por São Pedro que nunca costuma falhar!), mas péssimo para o meu charme, pois iria obrigar-me a fugir a sete pés. Não poderia haver algo mais desonrado, mas felizmente, tenho enormes aliados no Céu, que me deixaram concretizar, com evidente sucesso, a minha rota, quase tão boa como a de Vasco da Gama quando atingiu a Índia em 1498. Pelo menos, temos que admitir que foi mais pacífica e harmoniosa! Claro que agora eu estava a brincar convosco!
O Largo Dr. Fialho de Almeida é um espaço urbanizado dedicado a outro filho famoso desta terra, onde se encontra bem conservada a casa onde nasceu, estando a mesma assinalada com três lápides comemorativas. Estamos perante um grande escritor que testemunhou a fase turbulenta entre os finais do século XIX e inícios do século XX, e na qual se dará a passagem de testemunho da Monarquia Constitucional para a 1ª República. Mas agora deixemos o nosso amigo Fialho em paz, senão ele começa a malhar logo em mim (ele era famoso pela sua crítica implacável e satírica!).
Mais ao lado estava, embora que ladeada pela rua Henrique Galvão (novamente a toponímia a remeter-nos para um homem que se opôs ao regime de Salazar, embora este sem ligações claras a Vila de Frades, ao contrário de Humberto Delgado que chegou mesmo, numa situação específica a ter necessidade de se refugiar nesta terra), o famoso casarão, bastante degradado, que acolhera outrora a família do já referido Dr. Conceição Silva. Mesmo assim, é um edifício com história e tradição que se destaca pelas suas consideráveis dimensões. Lembro-me bem que, quando estava a refrescar-me na Piscina Municipal da Vidigueira, avistava, ao longe, Vila de Frades. Conseguia identificar rapidamente a altiva Torre do Relógio (talvez do século XVI, embora remodelada profundamente em 1890), a imponente Igreja Matriz e este mesmo casarão. Esperemos todos nós, para bem da localidade, que a construção seja preservada.
Na sequência destes andares pelas proximidades, conheci ainda a famosa Rua do Pensamento. Talvez, tenha sido aí que extraí a minha inspiração para este texto! Ou será que foi a pinga que bebi há pouco que excitou os meus neurónios? Não sei, mas o que é certo é que essa rua do Pensamento, era muito pequena e remetia-nos para sentimentos calmos. De facto, temos que reflectir bem nas decisões que tomamos, sobretudo nos dias de hoje que são atribulados devido à crise económica. Até porque, nas redondezas, encontrei também a Rua do Carrasco, e pensei logo naqueles senhores de preto que andam de mala na mão e que vêm do estrangeiro para observar se Portugal tem sido um bom aluno. Talvez eles não venham para nos fazer o funeral (apesar das cores dos seus trajes!), mas por outro lado, é certo que constituem uma ameaça à produção de sorrisos portugueses (o que tem diminuído claramente nos últimos anos!). E só de abordar isto, já estou a ficar mal humorado. Por isso, vamos mudar de assunto!
Entrei na Igreja da Misericórdia (conhece as suas origens no século XVI ou XVII), cumprimentei o funcionário que honrava o seu serviço, e depois deparei-me com uma exposição intitulada - Ficalho Artes. Nossa Senhora das Graças, padroeira das parturientes, destaca-se no centro do altar, mas agora estava acompanhada no seu redor por um trabalho cultural notável. Tínhamos quadros diversos (uns relacionados com os campos e a agricultura) e ainda algumas esculturas (por exemplo: relacionadas com a produção vinícola). O vigilante de tal exposição contou-me que, de facto, estiveram lá imensas pessoas e que os elogios foram frequentes no fim de semana passado da Vitifrades 2013. As imensas cores aplicadas coroavam o esplendor daquelas pinturas. Se ainda não foram visitá-la, acreditem que podem e devem apreciá-la até dia 12 de Janeiro. Para que conste, a autoria desta exposição deve-se a António Bento, Leandro Sidoncha, Bento Sargento e António Réu, todos eles com ligações íntimas à Freguesia de Vila Verde de Ficalho (Concelho de Serpa).
Por fim, tive que retornar pelo mesmo caminho, pois as minhas pernas já acusavam um tremendo desgaste. Despedi-me da paisagem, mãe de todos aqueles montes cada vez mais verdinhos que conseguia visualizar ao longe e que abençoavam toda esta terra!
Estava, na altura, pois de voltar ao meu serviço!




Imagem nº 1 - O Ponto de Partida da minha caminhada majestática!
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 2 - O largo consagrado, em jeito de homenagem (no ano de 2008), ao Dr. José Luís Conceição Silva.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira




Imagem nº 3 - Pavimento Novo para acolher o futuro Centro de Leitura.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 4 - Mesas e cadeiras para usufruto dos leitores.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira




Imagem nº 5 - Que lindas laranjeiras!
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 6 - Nesta foto tirada noutra circunstância, o mercado diário ainda estava aberto, mas na altura da minha caminhada triunfante, relembro que já estava encerrado.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 7 - A Igreja Matriz atinge elevadas dimensões.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 8 - A Igreja da Misericórdia de Vila de Frades, onde se encontra agora uma bela exposição cultural.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 8 - Azulejo da autoria de Manuel de Carvalho (CM Vidigueira, 2001) que pode ser observado nas proximidades e que retrata o Largo Dr. Fialho de Almeida, onde está a já referida Igreja da Misericórdia e a casa onde nasceu este conceituado escritor.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira




Imagem nº 9 - A casa onde nasceu Fialho de Almeida.
 Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira




Imagem nº 10 - O Casarão que pertenceu à Célebre Família dos Conceição Silva.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 11 - Veja-se a Torre do Relógio ao longe.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 12 - Esta é a parte do trajecto onde devem reflectir!
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagens da Exposição concentrada no interior da Igreja da Misericórdia:




Imagem nº 13 - Um Campo cheio de trigo...
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 14 - Escultura que nos apresenta algumas uvas.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 15 - Escultura sobre o Vinho da Talha, isto para além de ser apresentado um quadro onde se podem ver pipas ou barris.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira



Imagem nº 16 - Os quadros e as esculturas evidenciam uma elevada categoria.
Foto da autoria do Mensageiro da Vidigueira

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