quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Antevisão Especial Vitifrades III - O vinho vilafradense na Era Contemporânea...

Dada a sua inegável fama nas eras antiga, medieval e moderna, o vinho de Vila de Frades chega à actualidade, transportando o sabor e o requinte que sempre constituíram os seus mais fiéis adjectivos. Não é por acaso que esta povoação reivindica o estatuto invejável de Capital do Vinho da Talha. É uma tradição que remonta ao período romano, mas que se consolida acima de tudo nos dias de hoje, com a realização de eventos importantes. Um deles é, sem dúvida, a Vitifrades 2013 que se realizará entre os dias 6 e 8 de Dezembro, prometendo atrair vários admiradores da tradição vinícola, já que se realizam provas para eleger o vinho sensação do momento, isto para além das pessoas desfrutarem da oportunidade de visitar as adegas, património desta freguesia!
De acordo com o autor Desidério Lucas, deverão ter existido cerca de 200 adegas até ao início dos anos cinquenta, número que entretanto reduziu drastricamente até à actualidade. Mesmo assim, é certo que as vinhas mais velhas foram substituídas por mais novas, de maiores dimensões e devidamente modernizadas.
As vindimas constituíam mesmo a grande festa dos campos de Vila de Frades, onde familiares e amigos se auxiliavam para recolher as uvas dóceis que lhes eram reservadas, após um trabalho duro e intenso. As azeitonas, normalmente amargas, eram recolhidas no Inverno, enquanto que as vindimas decorriam no Verão ou Outono. As cestas estavam recheadas com um dos produtos mais cobiçados a nível nacional e mundial. De seguida, as uvas seriam pisadas, ou num contexto mais especializado, seriam alvo do devido tratamento por parte dum moinho eléctrico que asseguraria tal funcionalidade. O "sumo" recolhido passaria depois para uma talha ou pote. É imperioso que as condições de boa higiene sejam respeitadas ao longo de todo este processo. Depois de concluída a fermentação, o vinho novo estaria praticamente à vista de todos.
Como é que sabíamos que o produto final correspondia às expectativas iniciais? Era simples. Enchiam-se os primeiros copos que passavam de mão em mão, bebia-se, em jeito cerimonial, o primeiro gole, e proferiam-se posteriormente os primeiros comentários que o dono da adega teria que ouvir com a maior das atenções. Todavia, as críticas menos positivas tinham de ser feitas com cuidado e bom senso, pois as pessoas que estão à frente dos projectos vinícolas denotam grande sensibilidade, até porque não é fácil nos dias de hoje investir numa actividade como esta...
Numa terra que escolheu como seu principal elemento identificativo - o seu bom vinho, é natural que existissem tabernas, talvez fossem 20 noutros tempos, mas actualmente só restam 3 ou pouco mais.
No restaurante País das Uvas (nome que advém da célebre expressão utilizada pelo escritor Fialho de Almeida para descrever esta linda terra, cuja paisagem não deixa ninguém indiferente!), ainda hoje pode ser testemunhada a tradição do vinho de talha em Vila de Frades.
Apesar da crise que o país atravessa, a povoação de Vila de Frades tem orgulho da sua história, e luta para que a mesma não caia no esquecimento. A sua homenagem ao seu vinho dá-se com o evento anual da Vitifrades, isto da mesma forma que os vilafradenses se envaidecem pelo legado romano (as ruínas de São Cucufate), pela historicidade dos seus templos cristãos, e por serem ainda o berço daquele célebre escritor que marcaria uma era na transição entre os séculos XIX e XX - Fialho de Almeida.
Por fim, deixo-vos um vídeo, baseado numa célebre quadra de Joaquim Caeiro:



Imagem nº 1 - A canção que mais identifica esta terra, outrora sede de concelho.


A Quadra Principal veiculada é esta:

Vila de Frades já não tem abades,
Mas tem adegas que são catedrais,
E os seus palhetes são uns brilharetes,
São de beber e chorar por mais.


Referências Consultadas: Ó, Desidério Lucas do - Vila de Frades. Capital do Vinho de Talha. Sintra: Colares Editora, [2010].

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