A obra designada O País das Uvas foi publicada em 1893, e a sua autoria pertence a Fialho de Almeida. Confesso que tenho estado a ler a obra deste conceituado autor do Baixo Alentejo, cuja biografia tracei já num dos nossos textos iniciais que poderão consultar aqui neste endereço electrónico.
Por isso, e caso não tiveram ainda a oportunidade de ler este livro, gostaria de partilhar convosco as conclusões que extraí da minha leitura.
O título não deixa margem para dúvidas. Fialho de Almeida nasceu e viveu numa região que sempre se evidenciou pela produção vinícola, e não é de estranhar que exalte nos seus escritos a divindade lendária de Baco.
A sua obra incorpora alguns contos, a maior parte termina em jeito de desilusão ou até em tragédia. Denoto mesmo algum pessimismo que acompanhava o autor nesta altura. Por exemplo, na narração intitulada "O Filho" é relatado o desespero duma mãe já idosa que quase todos os dias aguardava ansiosamente pela chegada do filho que vivia no Brasil. Em tantas situações, vasculhava as estações e os comboios de fio a pavio à sua procura, mas os resultados eram sempre nulos, até que um dia, é aí informada do falecimento do seu adorado filho. Não conseguindo suportar a dor, acaba por se colocar na linha férrea, deixando-se esquartejar pelo comboio que velozmente se aproximava. Neste caso em concreto, Fialho pretendia retratar o calvário da emigração, um tema ainda bastante actual.
O interesse que nutre pela Natureza também sai reforçado, descrevendo as paisagens e realçando todos os aspectos vitais que a caracterizavam. Nalguns excertos, visualiza-se uma clara tendência anti-clerical, com Fialho a entoar críticas ao conservadorismo e à falta de moral que por vezes afectavam os clérigos. Demonstra ainda um tremendo fascínio pela mitologia grega.
A linguagem adoptada é bastante rica, realçando sempre o pormenor descritivo e recorrendo a neologismos e estrangeirismos. Utilizou igualmente uma adjectivação sucessiva e variada.
Fialho fala um pouco da região alentejana, referindo-se mesmo à sua terra Natal, Vila de Frades. Ressalva aí o trabalho dos campos (por exemplo, refere os grandes rapazes trigueiros que transportavam palha grosseira, menciona as humildes gentes que completam os últimos amanhos da vinha, as ceifeiras, os hortelões, os ranchos que davam os bons-dias, moleiros, carrejões...) e atribui à Rua de Lisboa (a via que actualmente passa junto à Praça 25 de Abril, antes denominada de Praça Nova) o estatuto de rua fidalga, evidenciando talvez a sua importância nesses anos finais do século XIX.
Efectua alusão aos sinos da paróquia e aos antigos Paços do Concelho do século XVII, parecendo estes guardar um velho sino numa torrela de ogiva. Menciona a existência duma forja e de arcos nas proximidades. Descreve a Torre do Relógio vilafradense como vetusta e revestida duma soberba cor caliginosa, em cuja lanterna o sino conta as horas daquela excruciadora calma alentejana.
O Convento dos Capuchos, ou de Nossa Senhora da Assunção, embora já extinto, também é recordado pelo escritor que o localiza, no sopé de alguns montes, junto a oliveiras e árvores ciprestes. Recorda os muros da cerca, referindo que o convento já havia sido profanado. Fialho refere ainda que todo esse espaço chegou a servir de cemitério antigo da vila.
Em suma, esta sua obra - País das Uvas, enaltece um espírito crítico por parte do seu autor, revoltado com as injustiças da época, mas sem nunca esquecer as suas raízes.
Imagem nº 1 - Fialho de Almeida, o autor da obra "País das Uvas".
Retirada de: http://thegoodarticle.com/fialho-de-almeida/
Referência Consultada: ALMEIDA, Fialho de - O País das Uvas. Introdução por Maria da Graça Orge Martins. Póvoa de Varzim: Biblioteca Ulisseia de Estudos Portugueses, 1987 (a edição original é de 1893).
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