sábado, 24 de maio de 2014

Um Poema de João Xavier de Matos (falecido em Vila de Frades no ano de 1789)


Pôs-se o Sol


Pôs-se o sol... Como já na sombra feia 
Do dia pouco a pouco a luz desmaia, 
E a parda mão da noite, antes que caia, 
De grossas nuvens todo o ar semeia! 


Apenas já diviso a minha aldeia; 
Já do cipreste não distingo a faia. 
Tudo em silêncio está; só lá na praia 
Se ouvem quebrar as ondas pela areia. 


Co’a mão na face, a vista ao céu levanto; 
E cheio de mortal melancolia, 
Nos tristes olhos mal sustenho o pranto. 


E se inda algum alívio ter podia, 
Era ver esta noite durar tanto 
Que nunca mais amanhecesse o dia! 



João Xavier de Matos, in 'Rimas' (1770-1783)




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